Durante um mergulho ao largo da Península do Iucatão em 2007, Alberto Nava, um mergulhador experiente, e dois amigos entraram num complicado sistema de túneis. A galeria que seguiram abriu-se numa enorme caverna escura ao fim de um quilómetro. No fundo da gruta a que chamaram Hoyo Negro (Buraco Negro) encontraram um crânio repousando sobre o osso de um dos braços, escreve o The Guardian. Tinham descoberto um dos mais antigos esqueletos humanos no continente americano. O achado foi esta quinta-feira divulgado num artigo na revista Science.

A origem dos nativos americanos tem sido muito discutida porque os primeiros humanos a ocupar o continente (paleoamericanos) eram fisicamente muito diferentes. Suspeitava-se que tivessem existido dois momentos de colonização – o primeiro deles há 30 mil anos, o outro há 17 mil. Porém, este estudo, coordenado pelo antropólogo forense James Chatter, dono da empresa Paleociência Aplicada, trouxe novos dados, conforme escreveu a National Geographic. Embora Naia, como foi batizado o esqueleto encontrado, tivesse a cara estreita e a testa proeminente, o nariz achatado e os dentes virados para fora – caraterísticas distintas dos nativos americanos -, tinha caraterísticas genéticas que a ligam aos nativos americanos.

Naia tinha 15 ou 16 anos, era magra e media 1,47 metros. Na altura em que caiu no fosso este ainda não estava coberto de água. Destino idêntico tiveram tigres dente de sabre, preguiças e ursos das cavernas. A jovem morreu da queda ou da imobilidade, devido à bacia partida. Ganhou o antigo nome grego das ninfas aquáticas mas só ficou submersa quando terminou a última glaciação.

“O que este estudo demonstra é que os paleoamericanos [da primeira colonização], com aquelas caraterísticas distintivas, podem ter tido origem na mesma população de Beringia [na zona do estreito de Bering] que os nativos americanos contemporâneos”, disse ao The Guardian Deborah Bolnick, co-autora do estudo e investigadora na Universidade do Texas, em Astin (Estados Unidos). A equipa conclui que em vez de terem ancestrais distintos fruto de duas colonizações, os nativos americanos terão evoluído no próprio continente.

Michael Waters, diretor do Centro de Estudos para os Primeiros Americanos, na Universidade Texas A&M, corrobora usando o exemplo de Anzick, o esqueleto de uma criança com 12.600 anos encontrada em Montada (Estados Unidos). “Agora temos dois espécimes e ambos provém de ancestrais asiáticos. Tal como no caso de Hoyo Negro, o genoma de Anzick mostra que os paleoamericanos são geneticamente relacionados com os nativos, portantos estes últimos não podem ter vindo de outra população. As diferenças entre eles resultaram da evolução. Mas desconhecemos o que conduziu a estas mudanças”.

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