O capacete é obrigatório para os condutores de ciclomotores e motociclos, mas essa proteção é insuficiente, até em quedas que aconteçam a 25 quilómetros por hora, segundo um estudo da Universidade de Aveiro. “Os capacetes atuais são capazes de passar nos testes das normas mas, na realidade, falham como meio de proteção”, garante Fábio Fernandes, que está a fazer o doutoramento do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro.

O estudo concluiu que os capacetes não são eficazes e traçou um panorama das consequências para os motociclistas em caso de acidente: traumatismos cranioencefálicos, perda da consciência, distúrbios na memória, cefaleias, náuseas, vómitos e disfunções visuais.

O testes, esses, nem foram assim tão ambiciosos. A avaliação foi feita em Aveiro considerando o impacto em capacetes certificados, à venda em qualquer loja, mesmo quando ocorre entre os 25 e os 30 quilómetros por hora, a velocidade imposta aos testes de qualidade pelas normas internacionais.

Segundo o investigador os resultados foram elucidativos do desajustamento das normas: “As lesões previstas com grande probabilidade de ocorrência na minha análise foram concussões e lesões axonais difusas”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A avaliação feita aos capacetes no mercado surgiu no âmbito de um estudo mais vasto de aplicações da cortiça do Departamento de Engenharia Mecânica da UA, que aponta a cortiça como alternativa ao poliestireno expandido (EPS), o material mais utilizado como revestimento interno dos capacetes.

“A cortiça é um material natural, capaz de absorver grandes quantidades de energia e enquanto o EPS absorve a energia deformando-se permanentemente, o que quer dizer que após um primeiro impacto, este não oferece qualquer tipo de proteção ao utilizador, a cortiça é capaz de proteger os motociclistas em impactos mais fortes e também em impactos subsequentes devido ao seu retorno elástico”, conclui Fábio Fernandes.

Números melhoraram muito

A verdade é que numa década os números de acidentes com motociclos tornaram-se menos dramáticos. Segundo a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), em 2003 foram registados 41.495 acidentes e 1.356 mortos nas estradas portuguesas. Desse total, foram 4.658 os motociclos intervenientes em acidentes com vítimas; 755 em acidentes com mortos e feridos graves; e 208 em acidentes com mortos. Quase 25% das mortes nas estradas em 2003 tiveram como protagonistas veículos de duas rodas.

Já em 2012 – a análise de 2013 ainda não está completa -, registaram-se 718 mortos num total de 29.867 acidentes com vítimas, o que representa um decréscimo muito significativo face a 2003. Se falarmos apenas em motociclos e ciclomotores, registaram-se 161 acidentes com vítimas mortais, 449 acidentes com feridos graves e 2572 acidentes com feridos ligeiros.