“O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa lêem apenas uma página”, escreveu um dia Agostino de Hipona. A editora Tinta­-da­-China decidiu demonstrar o erro desta frase: por isso publicou vinte e nove títulos que provam que é possível viajar sem sair de casa. Até às neves geladas da Europa Central ou às areias quentes da Argélia. Em Angola, as balas rasam a cabeça e no Afeganistão uma guerra sem propósito destrói o país e as gentes. Noutro qualquer canto do mundo, a história constrói­-se ­ — em cada paisagem uma história.

E é exatamente de paisagens que se faz a coleção de que aqui se fala. Construída a pensar naqueles que gostam de viagens, de literatura de viagens, ou simplesmente de uma boa leitura, a editora Tinta­-da-­China decidiu atravessar o mundo. Pela mão de Carlos Vaz Marques lançou em 2008 a coleção Literatura de Viagens, onde junta alguns dos melhores livros do género. O primeiro, Morte na Pérsia, de Annemarie Schwarzenbach, lançou o mote. O verão era quente e as férias ainda iam no início — seguiram­-se Paris de Julian Green e Uma Ideia da Índia, de Alberto Moravia. No total? Vinte e nove títulos, vinte e nove viagens.

Alguns autores são portugueses, como Ferreira Fernandes, Alexandra Lucas Coelho, Almeida Faria e Manuel João Ramos. Outros são dos quatro cantos do mundo: Jan Morris, Ryszard Kapuscinski, Josep Pla, Wladimir Kaminer e Agatha Christie contam-se entre os mais conhecidos. Somerset Maugham não podia faltar, não fosse a vida dele outra grande viagem. Mas independentemente do destino, as grandes viagens acontecem sempre nos livros, e estes, num verão que teima indeciso, são a melhor companhia para umas férias ­ com ou sem viagens. Mas se por um lado o intuito da coleção é provar que é preciso viajar, a Tinta-­da­-China acaba por provar exatamente o contrário: há viagens que não precisam de bilhete, pois acontecem aqui mesmo — no sofá.

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