O Bloco de Esquerda vive dias agitados que trazem ao de cima divisões antigas. Esta quarta-feira, Francisco Louçã escreveu um longo texto no Facebook onde criticava os signatários do Fórum Manifesto (que abandonaram o BE com Ana Drago), em especial Daniel Oliveira, dizendo que mudaram de opinião em sete meses, “num relâmpago”. O objetivo era um: dar a entender que só o fizeram para se aproximarem do PS e à possibilidade de virem a integrar um futuro Governo. Na resposta, o comentador acusou Louçã de “cobrar coerência” quando foi o ex-líder do partido quem “insultou” quem tinha determinadas posições no partido, como defender que se falasse na saída do euro.

Depois da saída de Ana Drago do Bloco de Esquerda este fim de semana, os ânimos no BE aqueceram. Francisco Louçã não ficou de fora da corrida e lançou a polémica ao acompanhar o texto que escreveu sobre o tema esta quarta-feira no Facebook com uma foto do livro “Os cinco na ilha do tesouro”.

Louçã FB sobre forum manifesto e ana drago

Para Louçã, os militantes do BE que se desvincularam do partido mais não fizeram do que mudar de opinião, mudança que “se processou num relâmpago”. E explica porquê: “O Fórum Manifesto aprovou em dezembro de 2013, há sete meses, uma cuidadosa resolução que criticava o Bloco porque, ao defender a reestruturação da dívida, não concluía que isso conduziria à saída do euro. Mais ainda, explicava – com os votos dos quatro militantes que agora saíram do Bloco e também de Daniel Oliveira – que a União Europeia se transformou num perigo para Portugal”.

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Ora, diz Louçã, os mesmos que defenderam isto há sete meses, são aqueles que agora querem tentar uma aproximação ao PS e nesse caso, avisa, têm de ceder nas posições:

“Como o novo partido leva a sério o seu putativo acordo com o PS e sabe que este é que determina a política e, mais, que a “dona disto tudo”, Merkel, não aceita um governo fora do quadro dos Tratados e da política do empobrecimento, anuncia já que os seus promotores moderam as suas posições anteriores e vão à negociação.

O ex-líder do BE até diz que esta é uma posição “honesta” porque serve para que se perceba a mudança de opinião, mas, refere, “é duvidoso que seja uma via nova para a esquerda e para o país”. É, nas palavras de Louçã, “mais um exemplo da política que sempre nos governou”. Já nos comentários, acrescenta que se a esquerda desistir de combater o “autoritarismo do Tratado Orçamental, então fica igual à direita e governará para empobrecer o seu povo“.

Daniel Oliveira leu e não gostou. A resposta chegou também pelas redes sociais (Facebook e Twitter) onde ironizou com as palavras de Louçã: “Acontecem coisas extraordinárias. Uma delas é cobrarem-me coerência sobre a minha posição em relação ao euro. Veja-se bem, estou disposto a entender-me com quem tenha posições diferentes da minha porque considero que a política exige compromissos”.

Mais tarde, nos comentários explica a posição sobre o euro, que levou Louçã  acusá-lo de falta de coerência

Daniel Oliveira

O comentador, que foi fundador do partido com Louçã, desvinculou-se há anos por discordar do rumo seguido pelo então líder (entretanto substituído por João Semedo e Catarina Martins) e na resposta à crítica de Louçã entrou também pelo ataque direto: “O extraordinário não é isto. É esta cobrança vir de quem, há uns meses, insultou qualquer pessoa que defendesse a saída do euro (“nacionalista”, defensor de uma aliança com a burguesia, querem o exército na rua para defender os bancos da fúria popular) e agora defende com a mesma violência retórica e intolerância política a posição que lhe mereceu tanto ódio. Não vou perder tempo com estas polémicas. Mas recomenda-se um pouco de decoro, não?”.

O decoro de que fala chegou ao ponto da imagem escolhida por Louçã para ilustrar a saída de Ana Drago e membros do Fórum Manifesto do BE. Há quem repare que na imagem aparecem os quatro e o cão e Oliveira aproveita a metáfora: “Costumo reservar esta violência retórica e de imagem para os adversários políticos. Mas, acima de tudo, não me entrego nem me entregarei ao ódio a antigos camaradas. Serei eu ser o cão traidor? Que falta de senso e de gosto…”