O que se passa no terreno?

As forças separatistas apoiadas por Moscovo estão a bloquear o acesso ao local da queda do Boeing 777. De acordo com o Guardian, vários especialistas em defesa e informações militares confirmam que as provas do atentado estão a ser deliberadamente encobertas pelos rebeldes. Quando ficou claro que não havia sobreviventes e que as provas apontavam para um ataque por parte dos separatistas, os observadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação da Europa) foram impedidos de aceder ao local — tentaram duas vezes nesta sexta-feira e foram barrados em ambas as tentativas, tendo inclusivamente sido alvo de um tiro de aviso. As Nações Unidas continuam a insistir numa “investigação completa, independente e internacional”, mas os destroços já foram mexidos e remexidos pelos rebeldes ucrarianos. Neste momento o paradeiro das caixas negras é desconhecido.

 

An armed pro-Russia militant stands guard at the site of the crash of a Malaysian airliner carrying 298 people from Amsterdam to Kuala Lumpur in Grabove, in rebel-held east Ukraine, on July 18, 2014. Pro-Russian separatists in the region and officials in Kiev blamed each other for the crash, after the plane was apparently hit by a surface-to-air missile. Members of the UN Security Council demanded a full, independent investigation into the apparent shooting down of a Malaysia Airlines jet over Ukraine.  AFP PHOTO / DOMINIQUE FAGET        (Photo credit should read DOMINIQUE FAGET/AFP/Getty Images)

 

E o que se passa na frente diplomática?

Barak Obama foi muito pouco diplomático: disse que a destruição do MH17 é “uma chamada de atenção para a Europa”, que se arrisca a ter uma situação semelhante à dos Balcãs à sua porta. A verificar-se o cenário mais provável — utilização de um míssil terra-ar na mão dos rebeldes pró-russos — europeus e americanos devem chegar a acordo no sentido de endurecer as sanções ao Kremlin. No curto prazo os esforços devem centrar-se em garantir a possibilidade de conduzir uma investigação rigorosa, o que neste momento está longe de estar garantido.

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O que aconteceu?

Eram 14h15 da tarde desta quinta-feira (hora de Lisboa) quando o voo MH17, da Malaysia Airlines, que voava de Amesterdão para Kuala Lumpur, capital da Malásia, desapareceu dos radares, enquanto sobrevoava o espaço aéreo ucraniano. Pouco depois, chegou a informação de que o avião tinha caído numa zona do leste da Ucrânia – a autoproclamada República Popular de Donetsk – atualmente em disputa entre as forças governamentais e as separatistas. As 298 pessoas que seguiam a bordo morreram todas. Dos passageiros, mais de 100 eram investigadores a caminho de Melbourne, na Austrália, onde iam participar na conferência anual de luta contra a SIDA.

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A rota que o voo MH17 seguiu até cair

 

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A zona leste da Ucrânia em detalhe

O que causou a queda do avião?

Nos Estados Unidos, os serviços secretos dizem estar fortemente convencidos de que o avião foi abatido com recurso a um míssil terra-ar lançado pelos separatistas pró-russos da Ucrânia, de acordo com a CNN. Os especialistas suspeitam que terá sido usado um míssil Buk, de construção soviética, com um alcance de 25 km de altitude e 42km de distância. O voo MH17 seguia, alegadamente, a 10km de altitude. Na última semana surgiram relatos da utilização deste tipo de mísseis pelos militantes separatistas pró-russos na zona, pelo que estes, conjuntamente com a Rússia, foram imediatamente acusados pelas forças governamentais da Ucrânia de ter abatido o avião. A Ucrânia diz mesmo ter intercetado comunicações entre os responsáveis pelo abate do avião.

Vladimir Putin, por seu turno, recusou as acusações e culpou a Ucrânia pelo sucedido, dizendo que se não fosse Kiev ter intensificado as ações militares, isto não teria acontecido. E pediu uma investigação “meticulosa e imparcial” ao sucedido. Nesse pedido foi apoiado por vários outros líderes mundiais, desde Barack Obama a Angela Merkel, que, aliás, considerou ser “prematuro” impor novas sanções à Rússia. Recorde-se que já esta quinta-feira a União Europeia e os Estados Unidos haviam imposto redobradas sanções económicas àquele país.

Quem são as vítimas?

Para já, 181 dos 298 corpos já foram retirados da zona de impacto e só falta conhecer a nacionalidade a quatro pessoas, diz a companhia aérea. Neste momento, estão confirmadas as mortes de 189 holandeses, 44 malaios (incluindo 15 tripulantes), 28 australianos, 12 indonésios, 9 britânicos, 4 alemães, 4 belgas, 3 filipinos, um canadiano, um neo-zelandês, um chinês (de Hong Kong) e um israelita – como confirmou ao Observador a Embaixada de Israel em Lisboa. Não há registo de portugueses a bordo. Mais de uma centena eram investigadores na área da SIDA e há, pelo menos, uma criança de oito anos entre as vítimas (indonésia).

No manifesto de bagagens do voo, divulgado pela Malaysia Airlines, lê-se que também seguiam no avião dois cães, quatro pombos e outras cinco aves.

Qual é o ponto de situação atual?

  • Já foram encontradas duas caixas negras, mas os separatistas pró-russos afirmam ter consigo material de gravação de dados proveniente do avião.
  • Prosseguem, ao mesmo tempo, as operações para retirar do local da queda do avião os corpos das pessoas que seguiam a bordo do aparelho.
  • O espaço aéreo na zona leste da Ucrânia encontra-se encerrado. Aliás, o tráfego aéreo em toda a Ucrânia é, neste momento, muito reduzido.

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Imagem captada às 13h (fonte: flightradar24.com)

  • As bolsas asiáticas registaram fortes quedas na sequência da queda do avião. As ações da Malaysia Airlines caíram 11,11%. As bolsas europeias também estão a registar descidas acentuadas. A bolsa de Lisboa segue com perdas de 1,44%.

Para atualizações em tempo real da situação na Ucrânia, consulte o nosso liveblog.