Os Estados Unidos acabam de anunciar que a Rússia violou o Tratado de Armas de Mísseis Balísticos que data de 1987, acusando o Kremlin de disparar projéteis para solo ucraniano. O próprio Barak Obama acusou pessoalmente Vladimir Putin numa carta pessoal enviada nesta segunda-feira.

A tensão entre os Estados Unidos e a Rússia já tinha subido de tom no domingo passado. O Departamento de Estado divulgou um documento com várias imagens em que mostrava a trajetória de mísseis lançados a partir de solo russo para a Ucrânia. A administração Obama garantiu – e usou várias imagens para o demonstrar – que durante os dias 21 e 26 de julho foram lançados a partir da Rússia vários rockets para solo ucraniano. Os lançamentos ocorreram, dizem as autoridades americanas, após a queda do avião MH17. Além disso, os EUA asseguram que os russos continuam a passar material militar através da fronteira para os separatistas pró-Rússia da Ucrânia.

Já em janeiro os americanos tinham alertado os seus aliados da NATO para testes de mísseis que a Rússia estaria a concretizar às escondidas, numa reunião realizada em Bruxelas. Na altura o New York Times noticiou o facto, afirmando que os americanos não estavam ainda prontos para fazer a denúncia pública — algo que agora se verifica sem dúvidas nem hesitações por parte de Washington. E é também o New York Times que afirma saber que o próximo relatório de avaliação de cumprimento dos acordos internacionais de controlo de armamento vai abordar o assunto. E, segundo o diário nova-iorquino, irá fazê-lo de forma clara: “Os Estados Unidos determinaram que a Federação Russa está em violação das suas obrigações no que respeita ao acordo INF — que determina que os signatários não devem possuir, produzir ou testar um míssil terra-ar com alcance entre os 500 e os 5.500 quilómetros, ou possuir ou produzir lançadores desses mísseis.

Acordo histórico marcou fim da Guerra Fria

Em 1987 Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev assinavam um acordo a todos os títulos notável. Não só as duas superpotências mundiais assumiam a vontade de limitar os respetivos arsenais como permitiam inspeções mútuas de modo a garantir o cumprimento do texto. Esse acordo, internacionalmente conhecido como INF (de Intermediate-Range Nuclear Forces, ou Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio), visava a redução de armamento de curto e médio alcance.

O encontro dos dois líderes em Washington marcou o início de novas relações entre os superpoderes e contribuiu para o início do fim da guerra fria — e, como o próprio Reagan assumiu na altura, a importância do Tratado “transcende os números”. Na altura isso assinalava uma vontade de maior entendimento entre os dois poderes, entendimento que está agora posto em causa na maior crise dos últimos trinta anos.

 

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