O primeiro secretário-geral da CGTP-IN, o historiador e antigo preso político Francisco Canais Rocha, morreu hoje aos 84 anos, disse à Lusa a direção de Santarém da central sindical.

“Francisco Canais Rocha, historiador de profissão, foi um fervoroso combatente antifascista e um dos mais destacados nomes do distrito de Santarém na luta contra o fascismo, facto que levou a que fosse preso pela PIDE, primeiro em 1952 e depois em 1968”, tendo esse segundo encarceramento durado cinco anos, lê-se na nota enviada à Lusa.

Nascido a 17 de janeiro de 1930, iniciou a sua atividade profissional como marceneiro e só mais tarde fez o curso do liceu, a licenciatura em História e o mestrado em História Contemporânea.

Fundador de diversas estruturas locais e regionais do Sindicato dos Metalúrgicos, “nunca esqueceu as suas origens operárias e, ao longo da sua vida, esteve sempre ao lado dos trabalhadores na sua luta por uma sociedade mais justa”, escreveu a direção da União dos Sindicatos de Santarém (USS) da CGTP-IN, enviando à família “profundas condolências pelo falecimento deste camarada de luta”.

Numa cerimónia de homenagem recente, organizada pela Câmara de Torres Novas, Canais Rocha referiu que pertencia “a uma geração que lutava por um mundo melhor, mais justo, mais solidário. Os valores da liberdade e da solidariedade nortearam toda a minha vida. Defendi sempre a união de todos e hoje é tempo de balanço. Olhando para o caminho percorrido, creio que tal percurso não foi em vão e a prova, se necessária, é esta homenagem”.

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Quem foi Canais Rocha

O antigo líder da CGTP começou a trabalhar logo após a instrução primária, primeiro como marceneiro na empresa de Alberto Sepodes, depois como carpinteiro de moldes, nas metalúrgicas Lourenço & Irmão e Costa Nery. Esteve ligado desde muito novo ligou-se aos movimentos sociais de Torres Novas, tendo sido preso uma primeira vez em 1952, com apenas 22 anos.

Depois de libertado viria a integrar as comissões de apoio às candidaturas de Arlindo Vicente e Humberto Delgado, tendo fundado as estruturas sindicais dos trabalhadores metalúrgicos no seu distrito. Militante do PCP, em 1961 integrou a delegação dos trabalhadores portugueses ao V Congresso da Federação Sindical Mundial, realizado em Moscovo.

Em 1968 foi de novo preso pela PIDE, tendo estado na cadeia de Peniche até 1973, ano em que foi libertado. Empregou-se depois no Sindicato dos Jornalistas e no Sindicato dos Electricistas, esteve próximo da fundação da Intersindical, de que se tornaria o primeiro coordenador-geral. Foi como dirigente sindical que, logo em Maio de 1974, foi escolhido como delegado dos trabalhadores portugueses à 59ª Conferência Internacional do Trabalho (OTI), realizada em Genebra.

Pouco tempo depois, ainda em 1974, deixaria a liderança da centra sindical, uma saída que nunca foi explicada mas que terá ficado a dever-se ao facto de, quando foi preso em 1968, não ter resistido à tortura e ter falado, denunciando companheiros. Membro suplente do Comité Central do PCP, foi expulso do partido por essa mesma razão.

De regresso a Torres Novas em Lisboa manteve uma intensa actividade associativa, designadamente na Federação dos Reformados do Ribatejo e como presidente da União das Colectividades e Associações de Torres Novas.

Publicou também numerosos artigos sobre a história do movimento operário e sindical e sobre história local e alguns livros sobre o sindicalismo.

O corpo estará em câmara ardente a partir das 19:00 na Casa Mortuária de Torres Novas, e o funeral realiza-se na segunda-feira, pelas 16:00, no cemitério daquela cidade, indicou a mesma fonte.