A Human Rights Watch anunciou esta segunda-feira que o seu diretor foi proibido de entrar no Egito, onde deveria apresentar um relatório da organização sobre a repressão contra os apoiantes do Presidente islamita Mohamed Morsi, destituído há um ano pelo exército.

A organização de defesa dos direitos humanos, com sede em Nova Iorque, qualifica de “prováveis crimes contra a humanidade” a dispersão realizada pela polícia e exército, a 14 de agosto de 2013, de duas concentrações de apoiantes do Presidente Morsi, que causaram cerca de 700 mortos, segundo dados oficiais.

O diretor executivo da Human Rights Watch (HRW), Kenneth Roth, e a diretora da organização para o Médico Oriente, Sarah Leah Whitson, ficaram retidos na noite de domingo durante 12 horas após a sua chegada ao Cairo, antes de lhes terem sido recusados vistos de entrada por “razões de segurança”, escreveu Leah Whitson na sua conta de Twitter.

Os dois dirigentes deveriam apresentar, na terça-feira, à imprensa no Cairo um relatório de 195 páginas para assinalar o primeiro aniversário do “massacre da praça Rabaa al-Adawiya e dos homicídios em massa de manifestantes no Egito”.

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“O balanço do massacre de Rabaa é comparável aos de Tiananmen [Pequim, 1989] e de Andijan”, a repressão sangrenta em 2005 naquela cidade do Uzbequistão, escreveu esta segunda-feira Kenneth Roth num comentário no Twitter.

A morte de pessoas nos acampamentos de Rabaa e Nahda é considerada como o ponto de partida de uma repressão que causou pelo menos 1.400 mortos entre os manifestantes pró-Morsi, visando em particular a Irmandade Muçulmana.

As dispersões dos acampamentos nas praças Rabaa al-Adawiya e Nahda, no centro do Cairo, ocorreram cerca de um mês depois de o chefe do exército, Abdel Fattah al-Sissi, ter ordenado a destituição e prisão do Presidente Morsi, o primeiro presidente eleito democraticamente no Egito, um ano e meio depois da queda de Hosni Mubarak.

Depois da destituição de Morsi, e na sequência de manifestações nas ruas, além dos 1.400 mortos, foram presos mais de 16.000 militantes da Irmandade Muçulmana e simpatizantes, segundo organizações de defesa dos direitos do Homem.

Centenas de pessoas foram condenadas à morte em céleres julgamentos em massa, qualificados pela ONU como “sem precedentes na história recente” do mundo. A quase totalidade dos membros da Irmandade Muçulmana foi presa e julgada, em processos em que os réus incorrem ou foram condenados a penas de morte.

O marechal Abdel Fattah al-Sissi foi eleito Presidente do Egito no final de maio deste ano, com 96,9 por cento dos votos, depois de ter eliminado a oposição política.