“Era um apaixonado e fazia-nos apaixonar pela rádio.” Manuel Acácio, chefe de redação da TSF, descreveu assim Emídio Rangel num especial que a rádio abriu a propósito da morte do homem que a fundou. Sobre a “rádio que mudou a rádio”, em Portugal disse que foi “a vitória do sonho”. As três letras, TSF, ficam-lhe para sempre coladas ao nome, mas há outras, SIC e RTP. Na primeira televisão privada em Portugal foi o primeiro diretor de informação e programas, no canal público foi diretor-geral. “Transformou a televisão em Portugal”, disse Nuno Santos, que com Rangel fundou a SIC Notícias. “Alguém que queria trazer o novo, mais que a novidade”, destacou Fernando Alves, jornalista de muitos anos da TSF, referência da rádio e autor de programas como “Sinais”.

Emídio Arnaldo Freitas Rangel nasceu em Angola, Sá da Bandeira (atual Lobango) a 21 de Setembro de 1947. Não resistiu a um cancro na bexiga. Estava internado no Hospital Egas Moniz há vários dias.

Licenciou-se em História, pela Universidade Clássica de Lisboa, chegou a estudar também Direito, mas a carreira afastou-o da conclusão de um segundo curso. Entrou na rádio em 1964, na Rádio Clube de Huíla, onde esteve três anos. Depois foi para a Comercial de Angola onde chegou a chefe dos serviços de produção.

Em 1975, revezando-se a conduzir com dois dos 4 irmãos, fugiu de Angola para a África do Sul, demorando dois dias a chegar. Lá, foi preso, declarado persona non grata e enviado de avião para Frankfurt. Chegou a Lisboa em Agosto de 75 e a primeira profissão que teve foi vendedor de enciclopédias. Não demorou muito até, novamente, trocar os livros pelos microfones, concorreu a um lugar na antiga RDP, ficou em segundo lugar entre 300 candidatos, e entrou na estação pública. Foi repórter, sub-chefe de redação e enviado especial. Ganhou vários prémios, entre eles, o Gazeta, com uma reportagem sobre a Ereira, uma vila perto de Coimbra que o Inverno isolava, e o Reis de Espanha, sobre a lixeira da Bobadela.

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Depois veio a TSF, a fundação da TSF – Cooperativa de Profissionais de Rádio. Foi diretor e presidente do conselho de administração da rádio. “Foram dias inesquecíveis, os melhores”, disse David Borges à TSF.

Antes do arranque oficial da rádio, às 7 da manhã do dia 29 de fevereiro de 1988, Emídio Rangel anunciava uma “rádio bissexta, 24h/dia de música e notícias”.

Em 1992, em fevereiro, aceitou o convite de Francisco Pinto Balsemão para diretor de informação da SIC, tendo assumido funções em abril. Em agosto acumulou a direção de programas, devido à saída de Maria Elisa. Esteve quase dez anos em Carnaxide. Saiu para a RTP, para diretor-geral, onde esteve menos de um ano.

Fernando Alves não hesitou, hoje na TSF, em classificá-lo como um visionário. “Era claramente aquele que ia adiante e que puxava o grupo para adiante. Mostrava caminho”.