Fala-se pouco no assunto, mas é uma realidade que atinge todos os homens a partir da meia idade: chama-se andropausa e é o equivalente à menopausa nas mulheres, mas ao contrário do que ocorre na biologia feminina (que se manifesta num curto espaço de tempo), nos homens decorre de forma progressiva. Entre os 30 e os 40 anos os níveis de testosterona (a hormona que define as características masculinas) começam a descer até um mínimo que se traduz em consequências que a maioria dos homens desconhece. Ou nega. As questões culturais têm aqui um papel importante: o “macho latino” teima em não envelhecer.

Alguns estudos sugerem que o decréscimo desta hormona está mais relacionado com o estilo de vida que com a idade, mas seja como for, a andropausa é um processo natural e manifesta-se no corpo e na mente. A descida dos níveis de testosterona acentua-se a partir dos 50/60 anos e expressa-se com falta de líbido e energia, perda de massa muscular e aumento de peso. Nos casos mais severos, também aumenta a irritabilidade e agravam-se os problemas cardiovasculares, a osteoporose, a impotência sexual e a depressão.

Não se pode confundir a descida dos níveis de testosterona com a fertilidade. Enquanto a menopausa representa, nas mulheres, o fim da capacidade reprodutiva, nos homens a biologia dita regras diferentes. Os homens podem produzir espermatozóides até muito tarde. O livro dos recordes do Guinness regista a idade de 92 anos e não são assim tão raros os casos de paternidade aos 70/80 anos.

Na cultura ocidental, os modelos de masculinidade vão muito além da capacidade de gerar prole. Nos anos 1990 começou a ser usado o termo metrossexual (que resulta da junção das palavras metropolitano e sexual) para definir o homem que se cuida mais do que a norma. A definição é subjetiva e foi durante muito tempo associada à homossexualidade. O homem que se mantém em ótima forma física, que rapa os pêlos e que gasta dinheiro em cremes e perfumes. Atualmente o conceito esbateu-se (pelo menos em teoria) e é possível manter a boa forma e o bom aspeto até uma idade bastante avançada. Contudo, tornou-se também habitual a manifestação de insegurança em relação à sexualidade. Os homens querem ser ativos até mais tarde, manter no físico a presença de espírito, o que se ilustra muito bem pelo fenómeno Viagra e outros que tais.

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A indústria há muito que compreendeu que o mercado da eterna juventude não se limita só às mulheres. A revista Time dedicou uma capa ao assunto e chamou-lhe “Manopause”. No artigo (disponível por assinatura) explica-se porque “a indústria da testosterona” vale mais de dois mil milhões de dólares por ano. A insegurança associada ao envelhecimento masculino é uma mina de ouro e há muitos interessados em elevar a fasquia para garantir que os homens se mantenham ativos e felizes. No topo das novas “técnicas” estão as injeções de testosterona: a Time relata o exemplo da clínica milionária Low T Center (T de Testosterona) que aplica esta hormona como terapia. O negócio vai de vento em popa, com 49 clínicas em 11 dos estados norte-americanos e 45 mil pacientes que gastam em média, por mês, 400 dólares. A prescrição de testosterona é um mercado que movimentou 2.4 mil milhões de dólares em 2013, valor que se prevê atingir os 3.8 mil milhões em 2018.

Contudo, esta prescrição terapêutica não está autorizada pela FDA (Food and Drug Administration). A entidade reguladora norte-americana apenas autoriza a aplicação da testosterona nos casos clínicos que o justifiquem, mas a realidade é bem diferente. Consciente que a aplicação de testosterona como medida de “anti-envelhecimento” está fora de controlo, a FDA tem previstas para setembro reuniões com especialistas para avaliar os perigos das “terapias T”. Isto porque a injeção desta hormona em adultos saudáveis não é isenta de riscos. Vários estudos sugerem que está associada ao aumento de ataques cardíacos, acidentes vasculares e cancro. E apesar de ainda não haver estudos científicos conclusivos, a FDA advertiu os fabricantes para incluir o aviso de risco de trombose associado a esta terapia hormonal.

O envelhecimento é inevitável, mas os riscos das terapias hormonais masculinas ainda são pouco conhecidos e a comunidade científica não está de acordo em relação ao seu custo-beneficio — a substituição hormonal feminina está bem estudada, por comparação. Mais investigação e terapias otimizadas poderão vir a revelar, no futuro, o verdadeiro elixir da juventude: envelhecer com qualidade.