Se a mesma música começa a tocar ao mesmo tempo em vários locais do mundo, isso é uma coincidência. Mas agora já há uma forma de saber quais são e onde tocam estas músicas, pelo menos as que são escutadas através do Spotify. O artista e programador Kyle McDonald desenvolveu um programa chamado Serendipity e o conceito é extraordinariamente simples: permite ver e ouvir, em tempo real, a música que duas pessoas estão a ouvir em determinado momento e em qualquer parte do mundo. O código escolhe duas faixas que tenham começado a tocar exatamente ao mesmo tempo (no limite, com uma diferença de tempo de uma fração de segundo). O mapa é dinâmico mas o utilizador pode parar a música (e a animação) através de um comando no canto superior esquerdo (não é preciso qualquer tipo de registo).

Esta escuta simultânea é comum no Spotify, o líder mundial na oferta de serviço de streaming — encontra-se disponível em 57 países, tem 40 milhões de utilizadores ativos e disponibiliza 20 milhões de músicas. Mas não só. Quem tem por hábito ouvir rádio de música generalista já terá passado por isto: começa a ouvir uma música, muda de estação e lá está a mesma música a tocar, talvez também a começar. Evidentemente que as rádios não combinam para que isto aconteça, trata-se de uma coincidência que resulta dos modelos de difusão musical adotados desde há vários anos pelas rádios de todo o mundo, denominado de playlist. Estas listas de reprodução musical são automatizadas e construídas com base em algoritmos informáticos, que selecionam os temas que tocam a determinada hora. Por um lado, para que as playlists funcionem, ou seja, para que sejam um instrumento eficaz na construção da identidade musical da estação, elas são (geralmente) limitadas no número de músicas. Por outro lado, a promoção musical centra-se num número ainda mais pequeno de sucessos comerciais, e por isso não é raro ouvir a mesma música a tocar, ao mesmo tempo, em rádios diferentes. As playlists existem por todo o lado. Já não são só as rádios, os serviços de streamig adotaram este sistema desde o primeiro momento. Este grau de personalização é antigo, basta puxar a cassete atrás. Muitos ainda se lembrarão de gravar em fita uma “playlist” para as férias ou para oferecer à namorada(o). As listas já existem há muito tempo, e vieram para ficar.

A novidade aqui é mesmo a plataforma. Foi a primeira vez que o Spotify admitiu um artista nos seus serviços — convém sublinhar que esta aplicação necessita do acesso à base de dados e do streaming em tempo real. O efeito desta experiência artística é visual e musicalmente alucinante: spotify.com/us/arts/serendipity. Vale bem uma visita.

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