Mais de duas dezenas de jornalistas e trabalhadores de ajuda humanitária estarão reféns dos extremistas islâmicos no Iraque e na Síria. Ao todo deverão ser já mais de 20, sendo que só no último mês se terão juntado mais quatro cidadãos estrangeiros, incluindo duas jovens italianas, de 21 e 20 anos respetivamente, que desapareceram na cidade de Alepo, na Síria, onde se tinham voluntariado para prestar ajuda humanitária.

Os reféns são todos ou jornalistas ou fotógrafos ou membros de organizações de ajuda humanitária, desaparecidos às mãos dos rebeldes em duas das cidades mais determinantes no contexto da guerra civil síria, Alepo e Idlib, e movidos depois para a cidade de Raqqa, o maior reduto rebelde do EI naquele país.

Os casos mais recentes foram noticiados pelo jornal britânico The Guardian, que avançava há dois dias que os militantes do Estado Islâmico tinham detido mais quatro reféns estrangeiros nas últimas semanas, numa altura em que os rebeldes ganham confiança e, tendo cada vez mais dinheiro e recursos, avançam no terreno. Os últimos sequestros, segundo este jornal, são as duas jovens italianas, Vanessa Marzullo (de 20 anos) e Greta Ramelli (21), um cidadão dinamarquês e um japonês.

siria italianas

Foto publicada no Facebook de Vanessa Marzullo (à direita), acompanhada de Greta Ramelli durante uma manifestação de apoio ao povo sírio realizada em março, em Roma

Mais do que os números dos reféns, que são pouco certos, os rostos assustam. Mas à medida que aumenta o medo de que os extremistas possam cumprir as ameaças, as famílias manifestam orgulho nos seus entes queridos que tomaram a decisão de viajar para a Síria para reportar ou ajudar as vítimas. Depois de a mãe de James Foley ter emitido um sentido comunicado onde se mostrava “mais orgulhosa do que nunca” no filho por ter “dado a vida a tentar expor ao mundo o sofrimento do povo sírio”, também a mãe de uma das jovens italianas contou ao jornal italiano Prealpina como a filha Greta se tinha mostrado determinada a ajudar os outros desde criança.

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“Quando ouves a tua filha dizer ‘Mãe, estão a matar crianças na Síria, quero ir para lá e ajudar’, o que é que uma pessoa pode dizer?”, questionou a mãe, para afirmar de seguida que só podia “apoiar e ajudar”.

Números incertos

Só o Comité de Proteção dos Jornalistas estima que sejam já 20 os jornalistas desaparecidos na Síria, sendo que acredita que a maior parte esteja refém do ISIS, quer em território sírio quer fora, provavelmente no vizinho Iraque. Nos últimos dias, depois da divulgação do vídeo da execução de James Foley pelo grupo extremista islâmico, várias notícias deram conta de que a família do próprio Foley foi contactada para negociar um resgate, mas em vão. Outros casos têm tido desfechos diferentes, tendo já resultado em algumas libertações.

Segundo o The Guardian, só nos últimos seis meses pelo menos dez reféns incluindo um dinamarquês, três franceses e dois espanhóis foram libertados depois de longas negociações com os sequestradores, que exigiam resgates.

Mas os números não são certos, uma vez que tantos os governos como as famílias dos desaparecidos tendem a manter os sequestros em relativo sigilo com medo de que isso ponha em risco a vida dos reféns, enquanto equipas de negociadores tentam assegurar a sua libertação. Segundo a CNN, no entanto, acredita-se que o ISIS tenha em mãos mais cidadãos norte-americanos para além de Steven Sotloff, o jornalista que aparece nos minutos finais do vídeo da execução de James Foley.

A BBC avança com alguns nomes dos quais já há algumas informações. Além de Steven Sotloff, um norte-americano de 31 anos que desapareceu em agosto de 2013 no norte da Síria, em Alepo, é também público o desaparecimento de Austin Tice, outro jornalista norte-americano de 34 anos, que segundo a família foi tomado refém perto da capital síria de Damasco a 14 de agosto de 2012. Não se sabe onde está desde então e nenhum grupo assumiu responsabilidades pelo seu sequestro. Conhecem-se também alguns dados do desaparecimento de Ishak Moctar e Samir Kassab, dois jornalistas da Sky News Arabia que terão sido raptados em outubro de 2013 quando trabalhavam perto de Alepo.

Além dos jornalistas, informações avançadas pela imprensa nos últimos dias dão também conta de pelo menos três trabalhadores do Comité Internacional da Cruz Vermelha, capturados a 13 de outubro de 2013 na província de Idlib, onde estavam para prestar ajuda humanitária. Quatro outros funcionários foram também capturados no mesmo ataque mas libertados no dia seguinte.

Segundo o The Telegraph, a Cruz Vermelha não revela detalhes sobre a nacionalidade ou identidade dos seus funcionários sequestrados “em nome da sua segurança”, dizendo apenas que “estão a ser levados a cabo intensos esforços para assegurar a libertação dos três trabalhadores que permanecem em cativeiro”.