Como é que pedras enormes, algumas com mais de 300 quilogramas, podem percorrer longas distâncias no Vale da Morte, nos Estados Unidos, nem ninguém ver, nem ter qualquer intervenção no assunto? Este enigma há muito que intrigava os cientistas, por isso em 2011 uma equipa de investigadores da Instituição Scripps de Oceanografia, da Universidade da Califórnia, em San Diego, decidiu instalar uma estação meteorológica na zona e esperar para ver o que acontecia – poderiam passar mais de dez anos até que uma pedra se movesse novamente. Mas foi mais rápido do que isso. Em 2013, o fenómeno repetiu-se.

Em várias partes do Vale da Morte, no deserto de Mojave na Califórnia, há rochas que deslizam deixando marcas no solo. Retas, curvas ou com ângulos estranhos, às vezes por 250 metros. Racetrack Playa (praia das pistas de corrida, numa tradução literal) é um dos sítios onde os rastos deixados pelas rochas deslizantes são mais evidentes. As teorias para justificar este fenómeno são várias: forças extraterrestres ou sobrenaturais, ciclones ou camadas de algas viscosas. Mas nenhuma destas foi até o momento comprovada.

Em 2006, Ralph Lorenz, um cientista da agência espacial norte-americana (NASA), que tem estudado as condições atmosféricas de outros planetas, interessou-se pelo clima no Vale da Morte – encontrou semelhanças entre este deserto na Terra e uma região em Titan, uma lua de Saturno. Também ele se deixou intrigar pelas rochas deslizantes de Racetrack Playa e decidiu montar uma experiência em casa: uma caixa de areia com água e uma fina camada de gelo com uma pedra embutida colocada por cima. Um sopro leve e a camada de gelo arrastava a pedra por cima da areia. Faltava saber se era isto que acontecia no Vale da Morte.

Foi também em Racetrack Playa que os investigadores da Universidade da Califórnia decidiram montar a experiência: um medidor da velocidade do vento de alta resolução e 15 pedras ligadas a aparelhos GPS – pedras importadas, porque as nativas o Parque Natural não permitiu. Só precisavam que chovesse e que depois as temperaturas descessem tanto que a água formasse uma camada de gelo à superfície. Condições pouco frequentes num deserto que é considerado a região mais quente e seca da América do Norte.

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Mas em novembro de 2013 choveu e a água congelou. Quando Jim Norris e Richard Norris chegaram ao Vale da Morte assistiram ao fenómeno: o vento leve quebrou o gelo em grandes placas e empurrou-as contra as rochas, que por sua vez empurraram as rochas que iam deixando as marcas na lama. “A ciência às vezes tem momentos de sorte”, disse Richard Norris. “Contávamos esperar cinco ou dez anos sem nada se mover, mas apenas dois anos depois do início do projeto calhou estarmos presentes na altura certa e ver o fenómeno acontecer.”

Algumas rochas deslocaram-se por alguns segundos, outras por vários minutos (16). Pelo menos três rochas deslocaram-se por 60 metros, embora viajassem tão lentamente que o movimento era quase impercetível ao olho humano. E algumas das marcas foram deixadas pelos painéis de gelo mesmo sem estarem a empurrar nenhuma pedra. Os resultados foram publicados esta quarta-feira na revista científica Plos One.

Estará o mistério finalmente resolvido? “Registámos movimentos das rochas em cinco momentos diferentes durante os dois meses e meio em que o lago existiu. Alguns envolveram centenas de rochas”, disse Richard Norris. “Verificámos que mesmo no Vale da Morte, famoso pelo seu calor, o gelo é uma força poderosa no movimento das rochas. Mas não vimos os pedregulhos mesmo grandes em movimento… Será que funciona da mesma maneira?”