A Ordem dos Médicos contesta as conclusões da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde sobre a morte de dois doentes do Hospital de Santa Cruz, alegadamente por restrições orçamentais na instituição, e insiste em responsabilizar o hospital.

No dia 15 de julho, a Ordem dos Médicos revelou em conferência de imprensa que os dois doentes teriam morrido enquanto se encontravam em lista de espera no Hospital de Santa Cruz para receber dispositivos médicos para tratar por via percutânea uma estenose aórtica de alto risco.

Após esta denúncia, a IGAS abriu um inquérito e concluiu que a mesma não tinha fundamento, considerando que “carece de fundamento a denúncia de que, igualmente por restrições orçamentais, não houve reparações e manutenção do equipamento da Unidade de Intervenção Cardiovascular”, acrescenta.

Num relatório sobre “o caso das mortes no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental”, a que pertence o Hospital de Santa Cruz, a Ordem considera que a IGAS chegou a “erradas conclusões”, criticando, entre outros pontos, o facto de ter sido “elaborado por um jurista e uma administradora hospitalar, sem recurso a um profissional de saúde competente na área clínica em causa e sem presença de qualquer representante dos doentes”.

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“É totalmente legítimo considerar que há um potencial conflito de interesses, conforme se provará, pois o Estado investigou-se a si próprio”, lê-se no documento.

Para a Ordem, a inspeção da IGAS “não responde à questão fulcral, designadamente saber se os doentes em causa teriam significativamente mais probabilidades de ter sobrevivido se dispusessem do dispositivo em tempo útil”.

Neste relatório são recordadas mensagens eletrónicas entre profissionais e o conselho de administração, nomeadamente uma em que a presidente do conselho de administração do hospital, Maria João Pais, admite que, “por razões financeiras, não é possível autorizar mais VAP´s [Válvulas Aórticas Percutâneas] para este ano [2013], tal como já tinha sido acordado”.

Segundo a Ordem, “havia muitos doentes no programa VAP e o conselho de administração sabia que o número de dispositivos era muito inferior às necessidades, como repetidamente foi alertado (…)”.

“A Ordem dos Médicos reitera e prova que o conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental faltou à verdade na inspeção da IGAS e que, por razões financeiras e ignorando indicações clínicas urgentes/emergentes impediu a compra de VAP´s em número suficiente para os doentes que delas necessitavam”.

“A Ordem dos Médicos reitera e prova que os cortes exagerados impostos pelo Ministério da Saúde ao Serviço Nacional de Saúde estão a reduzir a sua capacidade de resposta aos doentes, com graves prejuízos para os mesmos, o que significa que o SNS já não está a cumprir os seus desígnios constitucionais”.

A Ordem exige a “demissão imediata” do conselho de administração do CHLO. “A não acontecer essa demissão, significará que é o Ministério da Saúde a assumir politicamente e o ministro da Saúde a assumir pessoalmente todas as responsabilidades do sucedido”.

A Lusa tentou contactar o inspetor-geral das atividades em Saúde, não tendo tido sucesso.