Para cerca de um milhão de bebés em todo o mundo, o dia em que nascem é também aquele em que morrem. Para outros dois milhões, a primeira semana de vida é igualmente a última. Em 2013, foram 2,8 milhões os bebés que não resistiram mais do que um mês. Apesar destes números, a mortalidade nos recém-nascidos regrediu entre 1990 e 2013, indica um relatório da UNICEF divulgado esta terça-feira. Se no início da última década do século XX se registavam 33 mortes por cada mil nados-vivos, em 2013 esse número era já de 20 mortes por mil nascimentos, o que representa um decréscimo de 40%. Ainda assim, há muito trabalho a ser feito, admite a agência das Nações Unidas para a defesa das crianças.

De um modo geral, a mortalidade infantil em crianças com menos de cinco anos registou uma queda significativa nos últimos 23 anos, passando de 90 por cada mil em 1990 para 46 por mil em 2013. Isto significa que, no ano passado, morreram 3,6 milhões de crianças com menos de cinco anos, quando no início da década de 90 eram 12,7 milhões as crianças mortas. Apesar da melhoria registada, a UNICEF alerta para o facto de a concretização do quarto objetivo do Milénio estar comprometida. Este objetivo estabelece como meta a redução da mortalidade infantil em dois terços até 2015, mas, segundo as contas das Nações Unidas, ao ritmo atual, tal só será conseguido globalmente em 2026.

“Dos 60 países com maiores taxas de mortalidade do mundo, 27 reduziram para metade a mortalidade em crianças até aos cinco anos entre 1990 e 2013. Durante o mesmo período, os 8 países com maior mortalidade viram essa taxa reduzir-se em dois terços – atingindo a meta do quarto objetivo do Milénio. Se a tendência se mantiver, é expectável que 63 países cumpram essa meta em 2015”, lê-se no relatório.

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Andreia Reisinho Costa

Isto deve-se sobretudo às diferenças ainda registadas de região para região, que a UNICEF diz serem “substanciais”. Se, por exemplo, a África do Leste e do Sul é a região que teve uma redução mais significativa nas taxas de mortalidade infantil (5,1% anualmente até 2005), a África Subsariana é onde o número de mortes é mais elevado: uma em cada 11 crianças morre antes dos cinco anos de idade. Aliás, em cada cinco mortes de crianças, essa região e o Sul da Ásia são responsáveis por quatro.

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Atingir o quarto objetivo do Milénio já no próximo ano parece uma tarefa quase impossível. “A taxa anual de redução da mortalidade abaixo dos cinco anos terá de aumentar 20,8% – um valor de progresso sem precedentes”, explica a UNICEF, que acrescenta que, entre 2014 e 2015, deviam ser salvas 2,3 milhões de crianças para que a mortalidade infantil ficasse dentro dos parâmetros definidos pelos objetivos do Milénio.

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Andreia Reisinho Costa

E como salvá-las? Segundo este relatório, intitulado “Compromisso para com a Sobrevivência Infantil – Uma Promessa Renovada”, grande parte das mortes infantis deve-se a causas que poderiam ser prevenidas. Por isso, a UNICEF afirma que “todos os países do mundo devem aumentar a sua atenção para com a qualidade do tratamento prestado às mães e aos recém-nascidos”, até porque essa idade “representa uma proporção crescente das crianças com menos de cinco anos mortas todos os dias”.

“As intervenções necessárias para salvar mulheres e recém-nascidos de morrerem devido a causas evitáveis são simples, económicas e com provas dadas”, defende o relatório, que, no entanto, acusa o mundo de ainda deixar morrer demasiadas mães e bebés.

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Andreia Reisinho Costa

Alguns dos cuidados que a UNICEF recomenda passam pela ida das mães a consultas pré-natais e da educação dessas mulheres para a necessidade de terem cuidados maternais mais eficazes, como começar a amamentar no prazo de uma hora após o parto, que a organização diz contribuir para a redução do risco de morte da criança em 44%. Desde junho de 2012, centenas de governos do mundo inteiro deram o seu apoio à iniciativa “Uma promessa renovada”, que procura encontrar soluções que conduzam à redução da mortalidade infantil.

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Andreia Reisinho Costa