Existem poucos locais associados ao Holocausto que estejam tão envoltos em mistério como Sobibór na Polónia. Mas agora, mais de 70 anos depois, uma parte da memória esquecida do antigo campo de concentração foi desvendada. Uma equipa de arqueólogos a trabalhar no local descobriu, escondidos debaixo de uma estrada alcatroada, uma série de muros de tijolos pertencentes às antigas câmaras de gás, onde se estimam que terão morrido 250 mil judeus. Os muros, escondidos a grande profundidade, poderão ajudar os arqueólogos a reconstruir a história de Sobibór.

“A descoberta das câmaras de gás em Sobibór é muito importante para a pesquisa sobre o Holocausto”, disse o historiador David Silberklang, diretor do centro de estudos Yad Vashem. “É importante perceber que não existem sobreviventes entre os judeus que trabalharam na área das câmaras de gás. Neste sentido, estes achados são tudo o que resta daqueles que foram assassinados e abrem uma janela para o dia-a-dia do sofrimento daquelas pessoas”.

Para além das câmaras de gás, foi também descoberto um poço usado pelos prisioneiros do campo, e no interior estavam centenas de objetos pessoais. “Encontrámos brincos e anéis de ouro”, disse ao jornal Haaretz o arqueólogo Yoram Haimi, responsável pela escavação. “Encontrámos também uma estrela de David e uma moeda palestiniana datada de 1927”, acrescentou. No meio dos objetos encontrados, estava também uma aliança com a frase escrita em hebraico “Olha, estás consagrado a mim”.

Estabelecido em março de 1942, o campo de concentração era pequeno e estreito. Era composto por três partes: a administração, várias casernas e as câmaras de gás. Perto das câmaras existia uma estrada chamada “Himmelfahrsstrasse”, literalmente “Estrada para o Céu”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

"Estrada para o Céu" fotografada em 2007

“Estrada para o Céu” fotografada em 2007

Em 1943, um homem chamado Alexander Pechersky, um soviético judeu, arquitetou um plano de fuga. O objetivo era matar o maior número de guardas possíveis e depois fugir. A insurreição aconteceu a 14 de outubro, e vários nazis foram mortos. Os prisioneiros fugiram depois em direção à floresta, que rodeava o campo. Muitos foram apanhados e mortos, mas alguns conseguiram concretizar a evasão.

Na sequência da revolta de Pechersky, o campo foi abandonado. À medida que iam deixando o local, as forças alemãs tentaram eliminar todas as provas da existência. Durante vários anos, as escavações no local mostram-se infrutíferas, não existindo qualquer prova evidente de que o local tinha sido um antigo campo de concentração.

Yoram Haimi tem organizado escavações no local desde 2007, juntamente com o polaco Wojciech Mazurek. A esta equipa juntou-se em 2013 o arqueólogo holandês Ivar Schute. O projeto tem sido conduzido em coordenação com o Instituto Internacional para a Pesquisa sobre o Holocausto, uma fundação alemã e polaca, e o museu estatual de Majdanek.

A história da fuga de Sobibór foi dramatizada num filme de 1987.

https://www.youtube.com/watch?v=71xnOMbfexM