Só este verão foram 243 os milhões de euros movimentados em transferências que envolviam jogadores representados por Jorge Mendes. Entre 2001 e 2010, aliás, o empresário terá ‘mexido’ em 68% do dinheiro em negócios com jogadores do Benfica, FC Porto e Sporting. Quem o diz? O jornal inglês The Guardian. Ou melhor, um prospeto a que o diário teve acesso e que sugere que o empresário pode ter violado os regulamentos da FIFA — por ser intermediário de negócios nos quais fundos de investimento, aconselhados por si, compraram direitos económicos de jogadores que o português representava.

O documento em questão, escreve o jornal, é datado de 2012 e, em suma, procurava reunir 85 milhões de euros de investimento para o Quality Sports V Investments LP, um fundo de investimento com sede em Jersey –, uma ilha britânica localizada no Canal da Mancha, considerada como um paraíso fiscal.

O prospeto — um tipo de documento que, por norma, apresenta a informação relevante para um potencial investidor — tem 225 páginas e visava convencer entidades a investirem no tal fundo para este, depois, comprasse percentagens de direitos económicos de futebolistas. “Uma oportunidade única para investir em futebol”, é uma das frases que o The Guardian destacou do alegado documento, que não chegou a disponibilizar.

E o documento aponta que Jorge Mendes serviria de “agente” dos jogadores dos quais o Quality Sports V Investments LP comprasse parcelas dos passes. “Poderia haver um atual ou potencial conflito de interesses”, diz o prospeto, ao referir a Gestifute, detida pelo empresário português, e a Opto, propriedade de Peter Kenyon, ex-diretor geral do Chelsea — pois ambas são conselheiras do tal fundo.

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Algo que violará os regulamentos da FIFA. Porquê? Primeiro, de acordo com o The Guardian, pois o alegado prospeto indicava que “Jorge Mendes poderia representar alguns dos jogadores” alvos de investimento e, portanto, seria “remunerado de forma independente”. Segundo, porque as regras da FIFA citam o dever “dos representantes de jogadores” de “evitarem qualquer conflito de interesses”, já que um empresário “apenas pode representar uma das partes envolvidas numa transação”.

Sporting: renovação em troca de percentagens dos passes

No Relatório e Contas do Sporting Clube de Portugal, relativo à época de 2013/2014, o clube informou que existem seis jogadores cujos direitos económicos, em parte, são detidos por fundos nos quais, alegadamente, Jorge Mendes serve de conselheiro: o Quality Football Ireland, o Quality Football Ireland II e o Quality Football Fund Ireland.

Apesar de não especificar qual a percentagem exata que cada fundo detém dos jogadores, o Sporting revelou que, a 30 de junho de 2014, estas entidades detinham fatias dos passes de cinco jogadores que hoje pertencem ao clube: Carlos Chaby (50%), Cristian Ponde (25%), Diego Rubio (40%), João Mário (25%) e Tobias Figueiredo (50%).

Ao ser contactado pelo diário inglês, o Sporting explicou que a compra destas fatias pelos fundos foi intermediada por Jorge Mendes — e que foi uma condição para que os cinco jogadores pudessem renovar contrato com o clube. “Isto é uma situação com a qual o Sporting não concorda”, explicou um responsável dos leões ao The Guardian.