Em Chicago, 23 de setembro passou a ser o dia Bowie. Porque a terceira maior cidade dos Estados Unidos fez um imenso investimento que a torna no único poiso americano de uma exposição histórica que nasceu no Victoria & Albert em Londres intitulada David Bowie Is (David Bowie É).

O nome é perfeito, porque David Bowie é muitas coisas, permitindo uma imensidão de leituras a partir da sua carreira. É muito mais que uma exposição, é um espetáculo interativo que evoca as muitas vidas de Bowie e se abre a várias leituras. A primeira ideia maior que sai desta exposição é que Bowie funcionou sempre como um caleidoscópio cultural, consumindo referências de forma obssessiva e processando tudo na sua amálgama criativa. E esse é mesmo um dos fascínios: conhecer as primeiras influências como Little Richard e Eartha Kitt e perceber de que forma elas entraram em espetáculos e/ou músicas. Ou entender como o trabalho do amigo Borroughs marcou algumas letras, do mesmo modo que isso ocorreu com o 1984 de Orwell ou o Dadaísmo ou os textos de Brecht ou o cinema. Cinema que está também muito presente graças às muitas personagens que Bowie representou e que foram também elas marcadas pela sua música.

A segunda ideia que fica é a extrema disciplina e profissionalismo do artista Bowie, que sempre controlou todos os aspetos da produção não só musical mas também teatral — todos os figurinos, cenários e arranjos foram decididos, quando não concebidos, pelo próprio Bowie.
Mesmo na sua fase de Berlim — a mais criativa e caótica graças ao intenso consumo de cocaína e à energia pós-punk — Bowie nunca deixou de controlar o processo de construção e de desenvolver as suas personagens de forma estruturada. A exposição, organizada de forma cronológica, mostra precisamente isso graças à profusão.
São mais de 400 objetos do espólio pessoal: letras originais, esboços, roupas, adereços, fotografias, planos de palco, etc. E tudo é acompanhado por vídeos de espetáculos, excertos de entrevistas e imagens dos muitos Bowies que David encarnou ao longo das décadas.

A terceira ideia cumpre o objetivo central desta exposição: mostrar quão importante é David Bowie, o artista completo, nas mais de cinco décadas que esta exposição abarca — desde a adolescência, nos anos cinquenta, até que se retirou das digressões no início do século.
A exposição está organizada de forma cronológica, ajudando a entender o alcance da carreira do furacão Bowie. E começa mesmo antes do nascimento do fenómeno, porque quando lançou a sua carreira era apenas David James — o nome original com que nasceu e que só adaptou em 1965.
O pioneirismo do artista está patente em vários momentos: na criação de personas para as várias fases da sua carreira e para os seus espetáculos; no entendimento de que “a música tem de mostrar ao que soa”; no desenvolvimento de vídeos promocionais que eram verdadeiras performances vídeo, ao nível dos videoclipes que ainda nem tinham sequer sido “inventados” pela MTV. Esta exposição histórica é uma narrativa que honra o mote que o próprio defende: “You can be whoever you want to be”.

David Bowie Is está disponível até 4 de janeiro e os bilhetes podem ser comprados online.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR