O conflito entre a editora Hachette e a Amazon, que se arrasta há meses, pode vir a a tornar-se num caso de polícia. Às centenas de escritores lesados com o conflito, juntaram-se centenas de outros que preparam uma queixa ao Departamento de Justiça contra a Amazon por “táticas ilegais” para conseguir o monopólio do mercado. Em Portugal, a editora Leya tem contrato com a Amazon, no Brasil, mas não tem razões de queixa.

Segundo o The New York Times, entre os que querem avançar para tribunal está o norte americano Philip Roth, autor de obras como a “Pastoral Americana” que lhe valeu um Pulitzer. Os escritores uniram-se quando perceberam que o conflito entre a retalhista digital Amazon e o grupo editorial Hachette estava a prejudicá-los. E vão mais longe do que a questão inicial: quais os direitos e responsabilidades de uma empresa como a Amazon?, interrogam.

Inicialmente, em causa estavam os valores recebidos pelos E-Books (livros digitais). Num lado, a Amazon defende que a editora não tem custos de produção e impressão com um livro digital, logo não pode receber o mesmo por ele. No outro a Hachette, que edita os livros da autora do Harry Potter, J. K. Rowling, bate o pé e recusa reduzir as suas margens. Para pressionar o grupo editorial, a Amazon decidiu fazer um “boicote” aos seus livros, anunciando atrasos nas entregas, dispensando promoções e não promovendo a sua venda. Os livros não se vendem e os escritores não recebem.

Cerca de 900 escritores juntaram-se num movimento a que chamaram “Autores Unidos” para escrever uma carta ao responsável pela Amazon. Na altura já havia autores solidários, que não trabalhavam com a Hachette mas que se reviam nas queixas. Também foi escrita uma carta aos leitores, apelando que escrevessem ao diretor da Amazon – que sempre disse publicamente ler e responder aos mails de todos os clientes. E que se importava com a sua opinião.

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Agora no movimento há mais “Autores Unidos”. E para tal tem contribuído o agente literário Andrew Wylie, que tem contactado cada um dos seus clientes (são centenas) para ver se querem subscrever a denúncia. Milan Kundera é um dos que já aceitou. A carta, que será entregue à Justiça americana, está a ser elaborada por vários especialistas e deverá estar pronta no final desta semana.

“É muito claro para mim, e para todos aqueles que represento, que a Amazon está a fazer tudo em detrimento da indústria editorial e dos interesses dos autores”, disse Andrew Wylie. “Se a Amazon não parar, vamos enfrentar o fim da cultura literária americana”.

A Amazon tem defendido que o seu objetivo é tornar os livros digitais mais acessíveis a todos, tornando-os mais baratos. E que editoras e autores só iam ganhar mais se vendessem mais. Os autores lembram que as suas publicações são o seu trabalho e que as editoras precisam de dinheiro, muitas vezes para lhes darem como adiantamento para poderem escrever outros livros.

Leya trabalha com Amazon.com. br

Em Portugal, a editora Leya diz não ter qualquer problema com a Amazon – com quem trabalha para o Brasil E quanto ao negócio digital, “Portugal está ainda a criar um mercado”, disse ao Observador o diretor de Marketing, Pedro Sobral.

“A Hachette e a Amazon têm uma relação de muitos anos, é um mercado muito mais maduro e o livro digital tem um peso mais relevante”, explica.

A realidade das editoras em Portugal, explica, “é diferente”. “Neste momento o objetivo é promover este mercado, dar-lhe visibilidade, portanto não passa pela estratégia comercial”. Apesar de estarmos longe do mercado anglo-saxónico, o responsável desmistifica, no entanto, os valores entre o papel e o digital.

“O E-Book tem um custo tecnológico. O investimento em tecnologia é um custo substancial. Para entrar no mercado, há diferentes plataformas e temos que adaptar-nos a todas elas”, adverte.

A Leya tem já mais de 4 mil E-Books, alguns de outras editoras como a Almedina, que ainda não fizeram este investimento tecnológico e que recorrem à Leya para poderem ter os seus livros em formatos digitais.