A bola chegou-lhe às mãos. Melhor, intercetou-a. Estava a cerca de 20 metros da end zone e, portanto, tinha ali bem perto a oportunidade de fazer algo que, por norma, faz parte do seu dever impedir — marcar um touchdown. Por isso, o instinto disse-lhe para correr. Rápido, sem olhar para trás e enquanto via os companheiros de equipa a sacrificarem-se e a bloquearem adversários para lhe abrirem um caminho. Resultou. Aos 29 anos e pela segunda vez na carreira, Husain Abdullah pegou numa pequena bola oval e com ela marcou um touchdown para os Kansa City Chiefs.

De repente, um safety — posição defensiva no futebol americano, com missão de tapar passes ou derrubar adversários — atacava e conseguia marcar pontos no jogo. Assim que entrou na end zone (área onde se marcam pontos), Husain deixou-se cair, deslizou um pouco de joelhos e, depois, encostou a cabeça à relva. Abdullah é um devoto muçulmano e estava a agradecer a Alá pelo que acabara de conseguir.

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Quando o árbitro o viu ajoelhado, contudo, ouviu-se um apito: Abdullah era penalizado com 15 jardas. Porquê? Devido a conduta anti-desportiva. O jogador confessaria após a partida que, na altura, nem contestou a decisão pois estava convicto que o árbitro o penalizou por deslizar de joelhos — os regulamentos da NFL, a liga profissional de futebol americano, proíbem os jogadores de festejarem enquanto estão ajoelhados, deitados ou sentados sobre o relvado. “Entusiasmei-me um pouco. Penso que foi por causa do deslize. [Mas] sempre que conseguir marcar vou curvar-me perante Deus na end zone“, garantiu o jogador ao Kansas City Star.

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Os adeptos não pensaram o mesmo. Nas horas que se seguiram à partida, que os Kansas City Chief venceram (41-14) os New England Patriots, várias pessoas condenaram nas redes sociais o que viram como a penalização de um gesto religioso, recordando, sobretudo, diversos jogadores cristãos que já apontaram os braços para o céu, como gesto de agradecimento a Deus, e que não foram penalizados por isso durante um jogo.

Houve até quem fosse buscar um tweet que Mike Pereira, antigo vice-presidente da Arbitragem da National Football League (NFL), publicou a 25 de novembro de 2013, no qual escreveu que um jogador “não é penalizado por ir ao chão e louvar Deus depois de marcar um touchdown“.

Esta terça-feira, contudo, a liga de futebol norte-americano, através de Michael Signora, porta-voz do organismo, admitiu o erro do árbitro do encontro, ao dizer que “os oficiais não devem penalizar um jogador que vá ao chão por motivos religiosos”. Husain Abdullah, porém, continua a dizer que a decisão foi causada por ter deslizado de joelhos na relva, e não pelo gesto que protagonizou logo depois. De uma maneira ou de outra, este touchdown deu que falar.