Tenso e repleto de confrontos. Pelo meio, uma pitada de “acirramento” e “rispidez” para dar gosto às “críticas” e “acusações”, que serviram de principais condimentos. É assim que a imprensa brasileira serviu o debate, o último antes da primeira volta das presidenciais brasileiras, que se realizou na quinta-feira, no Rio de Janeiro. À conversa, ou melhor, a discutirem, estiveram os sete candidatos às eleições, embora o foco estivesse nos três que cavalgam na frente das sondagens: Dilma Rousseff, atual presidente, Marina Silva, candidata do Partido Socialista Brasileiro (PSB), e Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). As eleições são já no domingo.

Era a quarta vez que, na mira de câmaras de televisão e com o Brasil a assistir, os candidatos se encontravam. Desta feita, e durante duas horas e meia, os três principais candidatos dedicaram-se a tornar o debate no “mais tenso da campanha” — à boleia do Mensalão, da Petrobras ou de políticas sociais e económicas. Para o ilustrar, o Folha de São Paulo destacou os minutos em que Marina e Aécio se digladiaram numa discussão sobre corrupção.

Os dois candidatos, que as últimas sondagens colocam taco-a-taco atrás de Dilma nas preferências dos brasileiros, trocaram acusações sobre o Mensalão — escândalo de corrupção que envolveu subornos em troca de votos parlamentares para o congresso do país durante a presidência de Lula da Silva, entre 2005 e 2006.

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Primeiro, Marina lembrou que o caso foi ‘destapado’ em Minas Gerais, estado do interior do Brasil, do qual Aécio foi governador. Já o tucano, como são conhecidos os militantes do PSDB, lembrou que Marina era membro do Partido dos Trabalhadores (PT), acusado de ter orquestrado o esquema. Depois, o candidato do PSDB chamou Dilma à conversa, tirando proveito do formato do debate, no qual um participante podia atirar uma pergunta a qualquer outro, ficando ambos de pé durante a conversa. Ou seja, favorecia os confrontos.

“Em todos os blocos do debate, que durou duas horas e meia, os candidatos fizeram perguntas entre si, com tema livre (dois blocos) e com temas definidos por sorteio (outros dois). A cada pergunta, o candidato se levantava da cadeira, se dirigia até o centro do palco e chamava o adversário que desejava questionar.” – descrição do formato do debate, feita pela Globo.

Aécio insistiu no tema de corrupção. E Dilma respondeu. “Acho que há corruptos em todos os lugares, o que é necessário é que as instituições sejam capazes de investigar. Todo o mundo pode cometer corrupção, ninguém está acima dela. As instituições é que têm de ser virtuosas e impedirem que isso ocorra”, defendeu a presidente. O Folha, aliás, calculou o tempo que cada um dos três principais candidatos passou a discutir com os restantes — e Aécio foi o centro das atenções, tanto de Marina como de Dilma, que usaram 32% e 24% do seu tempo a discutirem com o político, de 54 anos.

O trio, em suma, foi desenterrando o passado de cada um. Aécio criticou Marina, ao dizer, citado pelo Estado de São Paulo, que “não há nada mais velho na política do que nomear para cargos públicos aqueles que perderam nas urnas”, lembrando as decisões que a hoje socialista tomou enquanto ministra do Ambiente de Lula da Silva. A candidata, ao responder, sublinhou que, “pela primeira vez na história do país”, os trabalhistas e os democratas “se juntaram para atacarem uma pessoa”.

Uma troca de perguntas. Uma guerra de acusações. No final, as contas diziam que Dilma dirigiu três questões a Aécio, Marina perguntou duas coisas à presidente e Aécio disparou para ambas as rivais. A candidata do PSB, aliás, chegou até a prolongar uma discussão com Dilma fora do ar, quando o direto foi interrompido, para responder a uma frase da presidente: “O diretor do Instituto Brasileiro do Ambiente [nomeado, na altura, por Marina Silva] foi afastado do meu governo por desvio de recursos.”

Após duas horas e meia de discussão, os candidatos, um a um, colocaram-se diante da câmara e fizeram as suas declarações finais. Horas depois, as sondagens dissecaram os resultados. A DataFolha não contrariou a tendência dos últimos dias e adiantou que, após o debate, Marina Silva e Aécio Neves estavam juntos, num empate técnico — ambos com 24% das intenções de voto. Já Dilma Rousseff continua a liderar, com 40%, liderando uma sondagem que se baseou num universo de um pouco mais de 12 mil pessoas.

No domingo, dia da primeira volta das eleições presidenciais, será a vez dos cerca de 200 milhões de brasileiros. Uma coisa, só uma, é certa: apenas dois candidatos vão seguir para a segunda volta do sufrágio. E aqui está a dúvida — ninguém sabe se será Marina ou Aécio.