“O Futuro da Europa é a Ciência”. O mote da conferência que decorre esta segunda e terça-feira na Fundação Champalimaud, em Lisboa, é uma frase que o ainda Presidente da Comissão Europeia, Manuel Durão Barroso, não se cansa de repetir. Aposta na ciência e tecnologia em geral, mas o cidadãos apontam a saúde e cuidados médicos e a criação de emprego como as áreas-chave de investimento da ciência, pelo menos, segundo o relatório que esta segunda-feira se apresenta no âmbito da conferência.

O evento serve para avaliar as políticas de ciência em três áreas-chave: saúde, emprego e ambiente, durante os últimos dez anos, os do mandato de Durão Barroso, e propor uma estratégia para os próximos 15 anos. Uma das preocupações com a saúde está relacionada com o envelhecimento: a população tem uma esperança de vida cada vez maior e sofre muito mais com as doenças degenerativas. Outra das preocupações prende-se com a ineficácia dos antibióticos contras as bactérias multirresistentes cada vez mais frequentes. Na área do ambiente procuram-se novos materiais, assim como fontes alternativas de energia. Os resíduos, um problema crescente, podem vir a tornar-se uma fonte de energia viável criando uma solução para os dois problemas.

A Comissão Europeia (CE) é obrigada a tomar decisões que envolvem uma forte componente técnica e que tem muitas implicações éticas e sociais, afirmou no discurso inicial o Presidente da CE. Por isso, Durão Barroso recorre frequentemente à Conselheira Científica Anne Glover e à respetiva equipa no Conselho Consultivo para a Ciência e Tecnologia (STAC, na sigla em inglês), que elaborou o relatório agora apresentado, assim como ao Grupo Europeu de Ética na Ciência e Tecnologia.

Criado no seio de uma família de cientistas, Durão Barroso manteve uma aposta na ciência durante a presidência da Comissão Europeia, mesmo durante o período de crise económica que afetou a Europa. Com tantas áreas importantes a necessitar de atenção, o Presidente defende que é preciso haver foco em quatro ou cinco. A ciência e inovação recebeu facilmente o apoio dos Estados-membros como área-chave de intervenção. A educação, nem tanto.

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“Sou um firme crente que a ciência, engenharia e tecnologia são vitais para a saúde da nossa sociedade, economia e ambiente. Devemos olhar para o futuro, para antecipar e preparar para os novos desenvolvimentos em vez de reagirmos a estes”, afirma o Presidente no relatório. Só com uma visão europeia pro-ciência e com o envolvimento dos cidadãos será possível alcançar uma medicina personalizada e preventiva, melhores condições de vida, sistemas de energia mais eficientes e menos poluentes e um equilíbrio entre economia, tecnologia e desenvolvimento social, lê-se no relatório. O aumento da literacia científica dos cidadãos mantém-se como uma medida fundamental para os avanços científicos e tecnológicos. O aumento do financiamento privado também é apontado como um dos passos a dar pelo futuro da investigação científica.

Foi com base na opinião dos cidadãos, nomeadamente através do Eurobarómetro apresentado esta segunda-feira, que se desenhou o presente relatório – The Future of Europe is Science_October 2014. “Este estudo concluiu que a saúde e os cuidados médicos e a criação de emprego são considerados pelos cidadãos europeus como as principais para a ciência, a tecnologia e a inovação nos próximos 15 anos”, refere o comunicado de imprensa da Comissão Europeia. São abordados os futuros desafios e recomendações, assim como as oportunidades oferecidas pela ciência, engenharia e tecnologia.

Durão Barroso incita todos os Estados-membros a apostar na ciência, acusando muitos Estados de “falta de antecipação política adequada”. A falta de visão no futuro da ciência e nos frutos que poderão advir, mesmo da investigação fundamental, irá comprometer o desenvolvimento desses países. O Presidente da CE afirma que uma aposta na ciência tornará a União Europeia mais forte, e “quanto mais forte, mais unida”.

O Presidente não deixou de enaltecer a qualidade da ciência produzida na Europa, lembrando que o prémio Nobel da Medicina 2014 foi atribuído a três europeus, dois dos quais já beneficiaram de bolsas do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês). Aproveitou o momento para elogiar também a nomeação de Carlos Moedas como Comissário da Investigação, Inovação e Ciência.

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