“O Governo tem de dizer [aos portugueses] se é a favor ou contra a venda da Portugal Telecom (PT)”, disse José Sócrates, no comentário político que fez este domingo à noite na RTP. Por entender que se trata de “um caso de interesse nacional”, o ex-primeiro-ministro referiu que “o Estado não pode abandonar a PT” e sujeitá-la ao “mercado das telecomunicações”.

José Sócrates diz que vê com “muita preocupação” o que se está a passar na empresa de telecomunicações portuguesa, sobretudo depois de Pedro Passos Coelho ter dito que se abstinha do caso. “O Governo não pode olhar para o caso da PT como se não lhe dissesse respeito”, afirmou, lembrando que a empresa agora liderada por Armando Almeida é “uma alavanca” para a economia portuguesa.

“O que me parece é que o que o Governo tem feito é aplicar o projeto BES ao país”, referiu, explicando que Passos Coelho estava a dividir o país em “país bom e país mau”, e que vendia o bom para ficar com o mau.

Sobre as declarações do ministro da Economia Pires de Lima, – que afirmou que o momento fatal para a PT foi “quando Sócrates exigiu a compra da Oi” -, José Sócrates lembrou que a fusão entre a PT e a Oi foi decidida em outubro de 2013.

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“O pior do Governo é pretender atirar as culpas para o Governo anterior”, disse, recordando o momento em que o seu executivo tentou utilizar a golden share para evitar a venda da Vivo. “Nós opusemo-nos a isso [à venda] e dissemos que a PT devia ter uma posição no Brasil, porque essa posição é fundamental para dar escala à PT e transformá-la num ‘player’ internacional”, revelou. E referiu que deveria ser permitido que o Estado supervisionasse algumas das “decisões estratégicas” que envolvem as empresas portuguesas.

Governo sai “prejudicado” com reunião de 18 horas

Sobre a reunião de 18 horas – onde o Conselho de Ministros aprovou o Orçamento do Estado de 2015 – Sócrates disse que “prejudicava a imagem da governação”, porque o orçamento deveria ser um trabalho de longos meses de negociação e não estar dependente de uma reunião. “O Governo está a dar um espetáculo”, referiu.

No alvo dos comentários do ex-primeiro-ministro, esteve Paulo Portas, por ter optado que a “negociação fiscal fosse feita em praça pública”. “Isso é próprio de quem não conhece o que é a lealdade institucional”, disse.

“O que os portugueses querem ver amanhã é quem ganhou ou perdeu”, referindo-se à negociação fiscal entre Pedro Passos Coelho e o vice-primeiro-ministro. “Se a sobretaxa [IRS] se mantiver nos 3,5% e houver uma espécie de contrato fiscal com os portugueses, então isso quer dizer que o vencedor não é Paulo Portas, mas Passos Coelho”, disse Sócrates, para quem as crises na coligação se devem ao aparecimento de António Costa.

“António Costa tornou-se na personagem central da cena política”, disse.

Sobre o BES, Sócrates disse que “ainda está para ver como é que o caso vai ser resolvido” e que o facto de o crédito às empresas ter descido 40% em agosto, já era uma consequência da crise no Grupo Espírito Santo.”Há muitas coisas que têm de ser explicadas e a Comissão de Inquérito deve ter aí um papel”, disse.

A propósito dos acionistas do BES, acrescentou que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) tem de assegurar que, no mercado português, todos devem dispor da mesma informação.

“As perspetivas para a economia portuguesa são claros sinais de declínio”, referiu Sócrates, acrescentando que as medidas de política monetária do Banco Central Europeu já não estavam a resultar.”Agora, até temos Vítor Gaspar, na sua condição de dirigente do FMI, a falar de investimento público, quando era uma coisa proibida. Vítor Gaspar disse cobras e lagartos do investimento público”, referiu.