O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, associou em entrevista à Lusa a violência à falta de transparência eleitoral e afirmou que as eleições em Moçambique “serão aceites quando forem justas”.

“As pessoas preocupam-se com a violência e as eleições serem aceites. Serão aceites quando forem justas e transparentes”, declarou o líder da oposição, em vésperas das eleições gerais (presidenciais, legislativas e assembleias provinciais), que se disputam na quarta-feira.

O presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), que saiu vencido nas quatro eleições presidenciais anteriores, questionou a utilidade de se reconhecer uma derrota fraudulenta e ouvir sugestões nesse sentido de conselheiros para passar por bom democrata. “Isso é ser estúpido.”

“Por isso, o aconselhamento que posso dar é que as eleições sejam transparentes”, insistiu Dhlakama, que espera ganhar a votação.

“Se eu perder porque o povo não votou em mim, vou disparar contra o povo? Isto não é democracia”, afirmou, reiterando uma relação entre o reconhecimento dos resultados e um processo limpo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A interpretação [dos resultados] nem será feita por mim, porque eu sou pessoa, político, sou Dhlakama. Esses todos que vão votar em mim é que vão exigir explicações”, destacou o líder da oposição, que assinou a 05 de setembro um acordo com o Presidente moçambicano para encerrar 17 meses de hostilidades militares com o Governo e que prevê a desmilitarização progressiva da Renamo, embora permitindo que enfrente as próximas eleições ainda armada.

O presidente da Renamo não espera que a próxima votação decorra de forma totalmente livre, porque “nunca houve eleições transparentes em Moçambique”, mas acredita que a nova lei eleitoral que impôs no processo de diálogo com o Governo vai diminuir a fraude.

“Não digo que tudo vai poder correr bem, mas quero acreditar que, pela primeira vez, na história de eleições em Moçambique, estas vão ser as melhores”, disse Afonso Dhlakama, que disse estar satisfeito com o trabalho dos órgãos eleitorais, apesar de “quadros antigos que lá estão ainda a tentar resistir”.

O líder da oposição falou também de um cenário de derrota da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), destacando o papel Presidente Armando Guebuza.

“Na assinatura do [acordo de paz], o Presidente Guebuza deu-me a entender que, depois desta vergonha toda dos dois anos, das mortes inocentes, gostaria de abandonar o poder sem violência”, mencionou, acrescentando que o chefe de Estado “mandou alguns recados para que as coisas estejam calmas”.

Se o seu partido sair vencedor, Dhlakama quer “esquecer o passado” e focar-se na reconciliação.

“Sei muito que é difícil, sobretudo na África Austral, onde os partidos históricos que trouxeram a independência consideram os partidos da oposição democráticos como inimigo”, observou, lembrando porém que um líder da oposição é “um futuro chefe de Estado.

A alternância, segundo Dhlakama, só assusta “os quadros da Frelimo que são super-ricos”, nascidos da “má distribuição da riqueza”, e “têm medo de que a Renamo vai vingar-se”.

“É uma mensagem forte que eu digo, porque são essas pessoas que têm receio”, sublinhou, prometendo “esquecer o passado, como elas enriqueceram”, mas lembrando que “um pé descalço não tem nada a perder”.

Segundo o líder da Renamo, “África não pode ter uma democracia chamada africana”, porque “a democracia tem regras, é um modelo para qualquer ser humano”. Por isso rebate “os velhos africanos” quando dizem que a democracia não é viável: “É possível e Moçambique e África vão mudar”.

“Não quero que a Frelimo desapareça, mas que se mantenha uns 15 anos na oposição para aprender o que é a alternância governativa”, disse ainda. “Sim vai doer. Estamos na oposição desde 1992 até hoje, mas nunca morremos, estamos cá.”