A Fidelidade ganhou 30 milhões de dólares [21,7 milhões de euros] ao vender ações da Alibaba uma hora depois de ter comprado os títulos na oferta inicial em bolsa do gigante chinês de vendas online.

O exemplo foi dado hoje pelo presidente da seguradora portuguesa, Jorge Magalhães Correia, na assembleia geral da Aese Business School, realizada em Cascais, para ilustrar as vantagens que o novo acionista chinês trouxe à Fidelidade. “Sem a Fosun não seria possível estar no radar destes investimentos”, sublinhou o presidente da seguradora num painel dedicado ao exemplo da Fidelidade no panorama do investimento estrangeiro em Portugal numa conferência que teve como tema “Portugal e o Mundo”, roteiros para o crescimento.

A entrada do novo acionista, concretizada este ano, permitiu à Fidelidade voltar a pensar em crescimento depois dos anos de intervenção e restrições que afetaram o anterior dono, a Caixa Geral de Depósitos. A seguradora ganhou autonomia estratégica para fazer aquisições, dentro e fora de Portugal.

Com um ativo de 12 mil milhões de euros, a Fidelidade assegura uma importante almofada de capital para investir. Mas até há pouco tempo, a maioria desses recursos estavam concentrados na União Europeia e em particular em Portugal. A estratégia passa agora por diversificar o portfólio para novos mercados e setores. África, onde a Fidelidade já está, e China, estão no horizonte.

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A compra da Espírito Santo Saúde é um exemplo da nova estratégia, mas o facto de falar com muita gente não quer dizer que a Fidelidade e a Fosun estão interessadas em “comprar, mas sim em analisar oportunidades de investimento”, avisou Jorge Magalhães Correia. Sem referir o interesse no Novo Banco, noticiado está semana, o presidente da Fidelidade referiu contudo que a empresa está a tentar concretizar outros negócios em Portugal.

“Nós, os chineses vemos oportunidades nas crises”

Minutos antes, o diretor da divisão europeia da Fosun, Xu Lingiang, explicou o que é que atraiu os investidores chineses, e em particular, a Fosun, em Portugal. A empresa privada chinesa ficou impressionada pelo esforço do Governo e das empresas portuguesas para superar as dificuldades e abrir o mercado ao capital estrangeiro.

“Nós, os chineses vemos oportunidades nas crises”, realçou Lingiang. A estratégia de expansão e compras da Fosun respondeu às oportunidades do mercado português. Apesar de esperar que o investimento chinês ajude a fortalecer a economia, o gestor da Fosun sublinha que a empresa vê Portugal como uma plataforma potencial para investir outras áreas, como Brasil e Angola.

A iniciar o painel, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, traçou um cenário mais dramático para Portugal se não conseguir superar a atual crise.

“Se não for possível resolver os nossos problemas nos próximos anos, o país entra num beco sem saída” que pode até levar a uma mudança de regime. Para o atual presidente do Banif, a captação do investimento estrangeiro é vital para resolver os problemas de financiamento da economia portuguesa, que foram recentemente agravados por “acidentes perturbadores no sistema financeiro”, numa alusão ao colapso do BES. Para Amado, a manutenção do quadro atual de dificuldades pode conduzir o “país a uma rotura social e política”.

O ex-governante defendeu que o país e as empresas portuguesas devem tirar partido do rasto histórico da relação entre Portugal e a China que remonta a 500 anos, o que aliás já é visível no processo rápido de investimento chinês em empresas nacionais.