A esperança até se pintava de verde e branco. Via-se talento, boa fama, pinta de jogador e golos a aparecerem pelos pés de um miúdo brasileiro. Chegara do Valência, jogara ao lado de Romário, o ‘baixinho’, e chamava-se Leandro Machado. Nesse dia marcou um golo. Longe dali, ainda nas Antas, era tempo de festa. Lá morava o campeão nacional, sob vontade e ordem de Otávio Machado. Estava recheado de portugueses, de mão-de-obra para trabalhar a favor de Mário que uma catrefada de golos ia tornado Super (seriam 168 em 175 jogos). Dessa equipa, no tal dia, contudo, ninguém marcou.

O dia era o primeiro de outubro. O ano ainda começava por ‘1’. Estávamos em 1997. E os portugueses, os da Liga dos Campeões, eram o Sporting e o FC Porto. E ambos ajudaram, à sua maneira, a que o dia fosse dormir de barriga cheia — chegou ao final da noite com 44 bolas encostas no fundo das balizas da Liga dos Campeões. Quarenta e quatro golos. Repartidos e marcados por 20 das 24 equipas que, na segunda jornada da edição de 1997/98 da prova, partilharam os relvados durante hora e meia de futebol europeu.

Foi muito golo. Muita festa. Nunca na história da competição — que só arrancara em 1992, para substituir a antiga Taça dos Clubes Campeões Europeus — se vira um dia no qual os resultados se juntaram num salão de dança e, em hora e meia de música da Champions a tocar, trocaram tantas vezes de par. Tudo por obra e graça do que 12 equipas, naquele dia, andaram a fazer nos relvados. Goleadas, portanto, houve em fartura, certo? Não, errado.

Avalanches de bolas a entrar na baliza, aliás, foi coisa que apenas se viu o Rosenberg a dar ao Olympiakos (5-1), ou AS Monaco a empurrar (4-0) contra o Bayer Leverkusen. E já agora também o Borussia Dortmund, de um Paulo Sousa, na altura, ainda em forma e longe de lesões, que bateu no Sparta de Praga (4-0) com quatro golos.

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Pelo meio, o Sporting de Oceano, Pedro Barbosa e do tal Leandro foi a Lierse empatar (1-1) com uns belgas. E o FC Porto em modo anfitrião não se esquivou de uma derrota (2-0) contra quem já embalava para ser campeão europeu: o Real Madrid de Jupp Heynckes conquistaria a prova nessa temporada. De resto, em nenhum dos outros encontros alguém venceu por mais de dois golos de diferença. Tal e qual aconteceu na terça-feira, 17 anos e uns quantos dias depois.

Só há duas diferenças: desta vez, a 21 de outubro de 2014, foram 40 os golos marcados. Menos do que há 17 anos, sim, mas estes apareceram em oito jogos, e não em 12.

De novo se viram três goleadas. Mas estas foram à antiga, das que um guarda-redes se cansa de dar uma volta para ir buscar bolas ao fundo da baliza. E nelas houve história. Primeiro, em Roma, onde Pep Guardiola regressou, agora com a companhia do Bayern de Munique, e demoliu todas a fundações que Rudi Garcia, o treinador da equipa caseira, montara para os deter — os alemães venceram por 7-1 e deram à Roma o pior resultado de sempre a jogar em casa, nas provas europeias. Incredibile? Talvez, tendo em conta que os italianos, até ao intervalo, só completaram nove passes no meio campo do Bayern.

O treinador catalão já lá andara em 2009, quando venceu, no estádio olímpico, a primeira de duas Ligas dos Campeões com o Barça. Antes, porém, já lá estivera. Não a treinar. Mas a jogar. Ou, pelo menos, a tentar fazê-lo. “Não jogou muito pois, nessa altura, estava a chegar ao final da carreira. Era lento, mas um pensador rápido”, chegou a dizer Fabio Capello, italiano que o treinou na Roma, em 2002/03, e que descreveu Guardiola (no livroPep Guardiola: Outra Forma de Ganhar”, em tradução literal) como “um líder bem comportado” e alguém que “sabia sempre o fazer à bola antes de ela lhe chegar”. Algo que hoje Pep parece ensinar a quem tiver de treinar.

Quem fez sempre o mesmo à bola quando esta lhe chegou foi Luiz Adriano: o brasileiro marcou cinco dos seis golos com que o Shakthar Donetsk atropelou o BATE Borisov (7-0). Fica a faltar uma goleada — a que o Chelsea de José Mourinho deu ao Maribor, em Londres, feita com um 6-0. Três goleadas e nenhuma das outras partidas a conseguir separar as equipas por mais de duas golos. Aqui foi igual.

E noutra coisa também — de novo um dia goleador na Champions teve Sporting e FC Porto metidos no meio. Desta vez, pelo menos, houve alguém conseguir sorrir. Neste caso os dragões, que em casa venceram (2-1) o Athletic Bilbao, enquanto os leões, na Alemanha, perdiam (4-3) no último minuto com o Schalke 04, dando sete golos ao recorde que acabaria por se conseguir.

Melhor, na Champions, só há 13 anos

Esta quarta-feira houve mais festejos. Muitos também, mas não tantos como no dia anterior — marcaram-se 19 golos. Até se viram goleadas. Mas, a sério, só mesmo uma, em Madrid, onde o Atlético recebeu (5-0) o Mälmo com cinco golos. Ao mesmo tempo, na Turquia, os alemães do Borussia Dortmund aterraram em Istambul e, quando descolaram, já tinham marcado quatro (0-4) ao Galatasaray. Pega-se na calculadora, contam-se os números e, numa jornada dividida por dois dias, marcaram-se 59 golos em 16 jogos.

Quase chegava para outro recorde. O quase traduz-se em quatro golos, os tais que a primeira jornada na edição de 2000/01 da Liga dos Campeões marcou a mais. Nessa altura andavam por lá o FC Porto e o Boavista. Ou seja, os dragões são a única equipa portuguesa a poder dizer que estava presente quando a conversa juntar golos, recordes e Liga dos Campeões à mesa.