Na Rússia há um novo vício chamado Spice. Trata-se de marijuana sintética, uma mistura de ervas e químicos que não é nova, mas que está cada vez mais potente. É muito aditiva e quase todos os dias provoca vítimas. Esta droga tornou-se popular sob o argumento que não cria a dependência característica das drogas “pesadas”, mas o Guardian relata casos dramáticos que explicam porque é que as autoridades russas estão preocupadas.

A Spice fuma-se geralmente através de um cachimbo e os efeitos caracterizam-se genericamente pela desinibição e total perda do medo. Mas poucas horas depois, a capacidade destrutiva e viciante desta droga revela-se na violência dos sintomas de abstinência. E não é um relato bom de ler: “Perdes toda a tua coordenação, não consegues pensar nem andar. É como estar perdido de bêbado mas ao mesmo tempo em pânico e aterrorizado. Começas a suar, ficas com palpitações e mal disposto. E às vezes começas a vomitar assim do nada, sem aviso. Se eu parar de fumar agora, daqui a duas horas estou a vomitar”, relata na primeira pessoa um viciado em Spice.

O Guardian conta outra história de uma toxicodependente, ex-heroinómana, igualmente ilustrativa. Ela diz: “Um dia acordei e percebi claramente que a única maneira de escapar desta vida horrível era matar os meus dois filhos e de seguida suicidar-me. Felizmente, o meu marido impediu-me de o fazer e acalmou-me. Mas e as pessoas que não têm esse suporte?” Este relato de Valentina ilustra o desespero em que, segundo ela, se encontram muitos jovens russos. Ela está convencida que as mortes atribuídas ao Spice são a ponta do icebergue. Crianças que se atiram da janela, ataques cardíacos e até imolações, todas as semanas a polícia assiste a suicídios e mortes violentas atribuídas a esta droga.

A Rússia tem experiência neste tipo de produtos sintéticos que provocam extrema dependência – ficou famoso há uns anos o caso da desomorfina (kokodril), uma droga violentíssima que provocava enorme dependência e que corroía os tecidos e órgãos dos utilizadores, levando a uma morte muito rápida. Acredita-se que esta nova droga é proveniente, na sua maioria, da China, e é muito difícil para as autoridades controlar o produto, porque a fórmula é complexa e muito flexível. As autoridades testam a droga apreendida, analisam-na e proíbem-na, mas os produtores alteram rapidamente a composição, o que volta a tornar a nova mistura legal até uma nova análise. Os efeitos variam pouco de lote para lote. E as causas finais, também.

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