Tudo aponta para que a escolha dos melhores investidores profissionais deixe de ser apenas feita com base em entrevistas e currículo. “É provável que testes de comportamento, exames ao cérebro e também análises à informação genética ajudem a prever características [dos investidores], como a aversão ao risco, com alguma certeza”, explica Hauke Heekeren, neurocientista da decisão da Universidade Livre de Berlim.

Heekeren, que também lidera o grupo de estudo sobre a neurocognição da tomada de decisão no Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, assegura que ainda é uma visão futurística, “mas que toda a investigação aponta para aí”. “Não é uma ideia estranha: se alguém for contratar um corretor de Wall Street que negoceia com milhares de milhões de dólares, é normal que tente analisar toda a informação possível para não recrutar uma pessoa que destruirá alguns milhões de dólares.”

A análise genética nunca poderá ser usada isoladamente. “Isto só poderá fornecer informação probabilística. Por exemplo, uma pessoa poderá ter uma probabilidade acrescida de 5% de ser avesso ao risco”, garante Hauke Heekeren. Todavia, a informação genética pode ser complementada com análise cerebral, através, por exemplo, de imagem por ressonância magnética. “A interação entre os genes e o meio envolvente é que define a pessoa e, logo, o investidor.”

Hauke Heekeren

Hauke Heekeren, em Lisboa, avisa que ainda há muito para estudar na relação da genética e do investimento. © Fábio Pinto

Heekeren é um dos pioneiros no estudo da preferência do risco e da genética. A sua equipa no Instituto Max Planck identificou uma variante genética que influencia as ações da dopamina, um neurotrasmissor importante nas decisões de investimento, entre outras. “Ainda temos muito para investigar. Seguem-se muitos outros estudos”, minimiza Heekeren, à margem da iMed, uma conferência organizada pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

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Os mais velhos não são mais avessos ao risco

Hauke Heekeren também estudou as decisões dos investidores mais velhos. “Estávamos à espera que os adultos mais velhos fossem mais avessos ao risco, mas não foi o que descobrimos”, conta o neurocientista. “O grupo dos mais velhos é mais heterogéneo, isto é, há muita disparidade no perfil de investidores.”

O estudo mostrou que é mais fácil encontrar investidores mais velhos muito avessos ao risco ou muito apreciadores do risco do que entre a população mais nova. Os investidores mais velhos “deveriam ser versões mais antigas dos mais novos, mas não são”.

Outro estudo liderado por Heekeren mostrou que as pessoas negligenciam a correlação dos ativos financeiros. A escolha de aplicações pouco correlacionadas permite aumentar a diversificação e minimizar o risco das carteiras. No entanto, por alguma razão, o cérebro não contabiliza as correlações. “O cérebro não capta o risco adicional de não correlacionar? É uma análise complexa para o cérebro? Ainda estamos muito longe das respostas”, conclui o investigador.