Ainda se vendem máquinas calculadoras, mas o lugar no museu da tecnologia já lhes está reservado. As aplicações que correm nos smartphones atuais (Android, iOS e Windows Phone) já permitem cálculo complexo — no iPhone, por exemplo, basta rodá-lo para que a calculadora passe de simples a científica.

Na semana passada a empresa MicroBLINK facilitou as contas, até as fórmulas mais elaboradas, ao anunciar o PhotoMath, uma aplicação para smartphone que dispensa a introdução de dados: basta apontar a câmara para a fórmula que se quer resolver e tirar uma fotografia, a aplicação faz o resto.

Contudo, o PhotoMath não se limita a apresentar uma solução. Uma das funções interessantes desta aplicação é permitir seguir passo a passo a sequência de cálculo — o que o processador do smartphone faz numa fração de segundos é apresentado em “câmara lenta” para que se possa compreender a formulação.

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Parece — é — prático e facilitador, poupa o cérebro dos mais preguiçosos ou confirma as conclusões obtidas com lápis e papel. Mas será pedagógico? E esta aplicação é boa a fazer contas? O Observador falou com dois docentes do ensino básico e secundário para nos ajudar a pensar.

Ana Matos, professora de Matemática, testou a aplicação e disse-nos que a PhotoMath “trabalha bem com expressões matemáticas e equações do 1º grau, mas não muito bem com as do 2º grau.” Muito habituada à tecnologia — a sua sala de aula tem quadro interativo e todos os seus alunos têm direito a um tablet — Ana Matos considera que esta aplicação pode ser um tutorial interessante mas que, sem supervisão, “pode não ser útil no sentido em que se torna uma muleta para o raciocínio. A tecnologia tem de ser um suporte e não a base, os alunos têm de aprender a pensar”, mas disse-nos que deixaria os seus alunos utilizar a aplicação como “ferramenta de verificação [de cálculo]”.

Paulo Farto, professor de Física, disse-nos que “em termos pedagógicos é um caminho já trilhado e sem resultados. Os formulários e as listas nas calculadoras têm sido a realidade dos últimos 10-15 anos e não funcionam.” Paulo Farto afirma preferir que os seus alunos “se apropriem da equação, que a trabalhem, apliquem, a reconheçam pelo nome, porque só assim a podem aplicar, reconhecer e tirar partido dela.” E reforça que “o conhecimento mais profundo é o resultado de um processo mais intimista, reflexivo e até ‘doloroso’, coisa que infelizmente não acontece com o clicar de meia dúzia de teclas.” Contudo, defende que “na investigação ou na indústria pode ser uma ferramenta ‘esotérica’ e muito útil.”

A aplicação é gratuita e está disponível para iPhone e Windows Phone e no início do próximo ano para os sistemas Android.