O ex-presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, alertou quinta-feira na Póvoa do Varzim para que, em breve, vai começar-se a ouvir vozes a pedir mais gastos públicos.

“A sociedade portuguesa acha que a crise é económica. Eu acho que a crise é política e a crise económica é filha da política”, disse, antes de desenvolver a tese de que se tem de “caminhar para orçamentos equilibrados”.

Num discurso em que falou também da reforma dos regimes políticos, Rio disse que “40 anos a pedir emprestado deu uma dívida gigantesca” a Portugal, defendendo a necessidade de repetir esta ideia “muitas vezes”. “O que é preciso é repetir isto porque a noção que eu tenho é que à primeira folga que possa haver não vão faltar vozes em Portugal a pedir ‘agora sim já podemos outra vez gastar mais, agora sim já podemos?’, afirmou.

O ex-presidente da câmara acabou por criticar todos os partidos políticos de “responsabilidades pesadas pelo desprestígio da atividade política”. “De cada vez que na Assembleia da República ou em conferência de imprensa, alguém se levanta e diz que na política se ganha muito, que são todos gatunos ou todos ladrões, tentando angariar popularidade para si à custa dos outros, está a prestar um péssimo serviço à democracia. Não há um do CDS, ao PSD, ao Bloco de Esquerda, todos tomaram medidas demagógicas que a longo dos anos só desprestigiaram a política e agora têm de se deitar na cama em que fizeram”, concluiu.

Questionado à entrada para a conferência sobre qual o seu futuro, Rui Rio remeteu para um “esclarecimento” recente, acrescentando que esse tem “uma validade muito longa”. A 13 de outubro, Rui Rio disse, num esclarecimento enviado à agência Lusa, não estar envolvido em qualquer estratégia ou movimento para chegar à liderança do PSD.

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O social-democrata também se escusou a comentar temas da conjuntura económica atual, nomeadamente o Orçamento do Estado.

Primárias? Só com regras mais apertadas

O ex-presidente da câmara do Porto, Rui Rio, disse ainda que, “considerando que o regime está como está”, a realização de eleições primárias pode ser “solução” para “forçar os partidos à abertura”.

Rui Rio falava na conferência “Portugal: ontem, hoje e amanhã”, que se realizou quinta-feira à noite no Clube de Caçadores da Estela, na Póvoa de Varzim, e, já na fase de perguntas e respostas destinado ao público, explicou o que pensa sobre eleições primárias.

“À partida, se as coisas funcionassem como deviam funcionar, não fazia sentido que houvessem primárias, porque, livremente, os militantes dos partidos escolheriam que deviam escolher e não se inscreve no partido quem não quer e inscreve-se quem quer”, declarou Rio.

O social-democrata abriu-se, no entanto, a esta possibilidade, justificando a opinião com o estado atual do país.

“Considerando, no entanto, que o regime está como está, os partidos estão como estão, eu admito condescender com regras mais lógicas e mais apertadas do que aquelas que foram utilizadas no Partido Socialista, utilizar essa solução como forma de forçar os partidos à abertura”, disse o ex-presidente da autarquia do Porto.

Rui Rio, recuou de novo para dizer que “na pura tese teórica isso [referindo-se a eleições primárias] não faz sentido”, para voltar a repetir: “Dado o estado a que chegamos admito que possa ser um contributo positivo”, concluiu.

O ex-presidente da Câmara do Porto afirmou que “todos os poderes da sociedade mal ou bem acabam por ter algum escrutínio”, referindo-se ao poder político, comunicação social e poder económico. “Agora o poder judicial. Se nós olharmos aquilo que foi a revolução do 25 de Abril, falta algum escrutínio. Temos de ter a coragem de que falta algum escrutínio. Tem de se abrir mais à sociedade e a sociedade tem de ser capaz de olhar lá para dentro e perceber melhor aquilo que se passa lá dentro”, defendeu.

Antes, o social-democrata tinha dito que apesar de não se considerar “especialista em justiça”, aprendeu “umas coisas de processo penal”, porque foi “umas vezes arguido” quando esteve na câmara. Sobre a matéria concluiu: “Tem de haver mais transparência e mais controlo democrático no funcionamento desse poder importantíssimo que é o poder judicial”.

Rui Rio começou por afirmar, falando na conferência “Portugal: ontem, hoje e amanhã” que se realizou esta noite no Clube de Caçadores da Estela, na Póvoa de Varzim, que aquilo que pensa “não é a corrente dominante e maioritária da sociedade portuguesa”.