O BCP chegaria a 2016 com um rácio de capitais próprios de 3% caso se confirmasse o cenário adverso previsto no teste de stress europeu cujos resultados o BCE divulgou este domingo. Ficaria aquém do mínimo de 5,5% exigido para receber “nota positiva” no exame. Por isso, o BCP chumbou, apesar de já ter tomado medidas desde o início do ano que, se aprovadas pelo supervisor, garantirão que o banco não precisa de reforçar o capital. Mas importa saber: quão duro é, na realidade, este cenário adverso simulado pelos técnicos do BCE?

O banco liderado por Nuno Amado não foi o único, entre os bancos que chumbaram, a aludir aos “pressupostos muito conservadores” que presidiram ao teste de stress do BCE. O BCP diz que, em particular, os pressupostos relativos a 2014 são muito penalizadores para o resultado que o banco acabou por ter. Em primeiro lugar: uma evolução condicionada do produto bancário, em particular da margem financeira, que considera para 2014 uma taxa de margem no cenário adverso consideravelmente inferior ao já verificado nos primeiros nove meses do ano, período relativo ao qual o BCP já divulgou resultados.

No comunicado publicado pelo banco em resposta aos resultados do teste de stress, o BCP queixa-se também dos “impactos desfavoráveis ao nível do negócio imobiliário”, que o cenário adverso assume uma desvalorização de 21% nos fundos imobiliários para 2014. “Na realidade, o mercado imobiliário em Portugal valorizou-se 5,9% em junho 2014 face ao período homólogo”, nota o banco.

Há, ainda, o efeito desvalorização da carteira de dívida soberana, outro dos fatores testados pelo BCE. Neste exercício, o pressuposto relativo à descida dos preços das obrigações do Tesouro português (com subida das taxas implícitas, o que não tem acontecido) penalizou o capital do BCP no exercício em 165 milhões de euros em 2014. Até ao momento este ano, tem acontecido o contrário: está a haver um impacto positivo real de 499 milhões de euros, diz o banco.

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Finalmente, o banco aborda, no comunicado, a penalização nas operações de securitização. “Não foi considerada a natureza específica do défice tarifário, implicando uma equivalente perda superior a 90%, quando o BCP acabou de fazer uma venda forçada com uma perda inferior a 5%”. Este fator foi, aliás, um dos que mais penalizou o banco no resultado dos testes de stress.

“Pressupostos particularmente gravosos”

O Banco de Portugal diz que o cenário adverso “tem muito menor probabilidade de ocorrer”, à luz dos desenvolvimentos recentes na economia. O exame do BCE quis ser duro, para não ser acusado de repetir o otimismo que alguns analistas apontaram às edições de 2010 e 2011. Assim, o próprio Banco de Portugal reconhece que “o cenário adverso incorporou pressupostos particularmente gravosos”.

No caso de Portugal, testou-se o efeito de um período prolongado de recessão na economia portuguesa, com uma redução acumulada da atividade económica superior a 10% entre 2011 e 2016, uma taxa de desemprego superior a 18% em 2015 e uma subida das taxas de juro da dívida pública, o que penalizaria os custos de financiamento do Estado e das empresas.

Tanto no cenário base – em que o BCP passou – como no cenário adverso, testou-se uma “redução significativa” dos preços da habitação, na ordem de 10% no cenário base e de 20% no adverso (em termos acumulados), diz o Banco de Portugal.

O organismo explica, no comunicado de rescaldo dos testes de stress, que “comparativamente com as projeções mais recentes, apenas a taxa de crescimento do PIB para 2014 é idêntica à prevista no cenário de base. Nas variáveis do desemprego, das taxas de juro da dívida pública e dos preços da habitação tem-se verificado uma evolução mais favorável”, diz o Banco de Portugal.

Deste modo, “face a esta evolução, as projeções do cenário adverso, sendo muito mais gravosas do que as do cenário de base, têm, neste momento, muito menor probabilidade de ocorrer”, garante o Banco de Portugal.