O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, decidiu extinguir o cargo de Conselheiro Científico Principal, ocupado por Anne Glover, devendo definir brevemente um novo formato para o cargo, anunciou esta quinta-feira um porta-voz do líder da organização comunitária.

Na edição desta quinta-feira, a Science and Business, publicação vocacionada em matérias de inovação na União Europeia, afirma que um porta-voz do presidente da Comissão Europeia confirmou o encerramento do escritório da Conselheira Científica do executivo comunitário, função que foi criada em 2011 por Durão Barroso, que deixou oficialmente o cargo no passado dia 1 de novembro.

Confrontada pela Science and Business, Anne Glover respondeu por ‘e-mail’: “A Comissão Europeia confirmou-me ontem (11 de novembro) que todas as decisões sobre o Gabinete de Conselheiros de Política Europeia (BEPA) foram revogadas e assim a função de conselheiro principal da ciência deixou de existir. O novo Centro Europeu de Estratégia Política (EPSC) que ‘substitui’ o BEPA não inclui a função de Conselheiro Científico”.

Em julho, o gabinete de imprensa da Comissão Europeia referiu, em nota enviada à Lusa, que o novo líder da Comissão Europeia estava a ver “muitas opções interessantes” relativamente ao formato que pretende estabelecer para o cargo, mas “manifestou a preferência por um conselho científico independente”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta quinta-feira, a Science and Business considera que a decisão de abolir a função de Conselheiro Científico terá resultado de “uma campanha de lóbi” por parte de grupos de ambientalistas, que estavam “irritados” com a posição de Anne Glover sobre temas de ciência que alegadamente não tinham um cunho científico.

Na altura, nove organizações não-governamentais (ONG) enviaram uma carta ao então presidente eleito da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, instando-o a desfazer-se da função de Conselheiro Científico Principal da organização, porque o seu papel, acusavam “é inexplicável, polémico e carece de transparência”.

Os ambientalistas discordavam, sobretudo, com “as opiniões parciais” da então Conselheira Científica sobre os organismos geneticamente modificados, sobretudo as proferidas num debate onde Anne Glover terá afirmado “reiteradamente que não havia um consenso científico sobre a sua segurança”, a dos organismos geneticamente modificados.

As nove ONG consideravam que “o cargo de Conselheiro Científico Principal é fundamentalmente problemático” e que o pelouro “concentra muita influência em uma pessoa, o que mina em profundidade a pesquisa científica e avaliações realizadas por ou para as direções da Comissão no decorrer da elaboração da política”.

A missiva era assinada por Jorgo Riss, diretor da Unidade Europeia da Greenpeace, Hans Muilerman, da Rede da Ação de Pesticidas, Christoph Then (Testbiotech), Jamie Page (Cancer Prevention and Education Society), Claire Robinson (GM Watch and Earth Open Source), André Cicolella (Réseau Environnement Santé) Anne Stauffer (vice-diretora da Health & Environment Alliance), Nina Holland (Corporate Europe Observatory) e Christophe Morvan (Fondation Sciences Citoyennes).

Numa carta enviada este mês ao novo Comissário Europeu da Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, o presidente da Comissão Europeia assinalou a necessidade de as propostas e as atividades da Comissão “serem baseadas em evidências científicas sólidas”, escreve a Science and Business.

A política científica tem-se ressentido dos cortes orçamentais dos governos europeus a braços com a crise financeira.