António Vitorino falava no 24.º congresso da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, no painel “Grandes tendências: Políticas, Sociais e Económicas”, um evento que decorre até quinta-feira em Lisboa.

“O resultado das eleições do próximo ano pode ser o de uma maior fragmentação partidária, de uma maior dificuldade de garantir a estabilidade económica e, para um país como Portugal, é uma questão central”, disse.

António Vitorino lembrou que Portugal é um “país periférico” que vem de uma “situação débil”, “sobreendividado” e cujo ajustamento teve “custos elevados”, por isso “não se pode dar ao luxo de ter um período de instabilidade governativa”.

“Mas, para isso, é necessário recuperarmos, nós portugueses, uma certa cultura de compromisso, que esteve presente em vários momentos decisivos da nossa história democrática destes últimos 40 anos. Quando falo em recuperar cultura de compromisso democrático falo também no plano partidário como no plano social”, explicou.

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Para o antigo comissário europeu, tem de haver em Portugal um acordo generalizado sobre o que interessa ao país e como isso pode ser defendido, algo que não tem acontecido.

Por outro lado, na “vertente interna”, nos próximos três anos, terá de haver “combate ao desemprego, capacidade de crescer através da melhoria da competitividade das empresas e do combate às desigualdades, que mina a legitimidade do regime democrático português”, apontou.

“O problema fundamental da Europa, e nesse ponto chegará a Portugal, é que a grande linha que separa os europeus na sua conceção sobre o futuro é entre a aposta numa Europa cosmopolita e aberta ao mundo e uma aposta num projeto europeu protecionista, de fechamento e defensivo”, considerou Vitorino.

Para o antigo comissário europeu, “esta é a linha de grande divisão” daquilo que denomina como a “força crescente dos partidos populistas e das forças demagógicas que pretendem explorar os sentimentos de insegurança [e] angústia” perante o futuro da Europa, através do regresso do controlo fronteiriço, de limitação de circulação das pessoas e o “cosmopolitismo”.

António Vitorino acredita que aquele movimento “chegará a Portugal inevitavelmente”.

O antigo ministro socialista defendeu que será necessário “resistir à tentação” das vozes que apontam a saída do euro ou o não pagamento da dívida para resolver os problemas, lembrando que deve haver responsabilização e não ceder ao facilitismo.