A Apple compra 25% do vidro de safira que é produzido em todo o mundo. Atualmente encontra-se na lente da câmara traseira (desde o iPhone 5) e também o botão “Home” (nos modelos 5S, 6 e 6+) que lê as impressões digitais. Este material é um dos mais resistentes que existe na natureza, por isso é tão desejado pelas grandes marcas, que querem equipar a tecnologia que produzem com um material resistente à pressão e aos riscos. A expectativa da Apple era a de conseguir produzir grandes quantidades de vidro de safira para os ecrãs dos novos iPhone 6 — e o aguardado Apple Watch (quanto a este último, a dúvida permanece).

O problema da Apple é a escala, porque uma coisa é produzir vidro de safira para uma marca de relógios de luxo, outra é conseguir um volume na ordem das dezenas de milhões de ecrãs para smartphone, sobretudo ao preço que a Apple quer. Na tentativa de produzir este material em grande quantidade, celebrou um contrato com uma empresa chamada GT Advanced Technologies (GT). Foi um fracasso que falámos aqui.

Várias coisas correram mal no negócio entre a Apple e a GT. Foram investidos mil milhões de dólares numa fábrica de vidro de safira, com o objetivo de produzir ecrãs para os iPhone 6 e 6 Plus. Mas quando chegou a data de entrega do vidro de safira nas linhas de montagem da Apple, a GT só tinha 10% da quantidade necessária. Tarde demais.

E como se não bastassem as dificuldades técnicas da GT, junte-se a logística. Em agosto, um dos trabalhadores da empresa deu pela falta de 500 blocos de vidro, até que se descobriu que foram enviados para reciclagem em vez de para a linha de produção.

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O Wall Street Journal conta que, antes do negócio com a Apple, a GT não tinha experiência no fabrico de grandes quantidades de vidro de safira. Foi incapaz de produzir os 2.600 fornos negociados, cada um capaz de criar por mês um bloco de vidro de safira — a qualquer coisa como 20 mil dólares cada. A sequência de eventos resultou na falência da GT.

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Blocos de vidro de safira defeituosos. Cada um demora 30 dias a produzir e custa 20 mil dólares — imagem do Wall Street Journal

A safira é um cristal com uma estrutura química de óxido de alumínio que assume vários tons na natureza. Por exemplo, os preciosos rubis são pedras de safira vermelha, mas a cor mais comum é a azul. As cores deste cristal derivam das impurezas que ele contém, é a versão mais pura, a transparente, que é muito difícil de encontrar na natureza.

A safira artificial é transparente, muito versátil e sobretudo, resistente à força (dez vezes mais que o aço inoxidável) e aos riscos. É um dos materiais mais duros que existem — o segundo, de acordo com a escala de Mohs, que quantifica a dureza dos minerais — é apenas ultrapassado pelo diamante. Daí que as grandes marcas apostem no desenvolvimento e produção de safira em grande quantidade, precisamente para colmatar as duas fraquezas mais comuns nos smartphones: o ecrã riscado e estilhaçado.

O vidro de safira artificial é produzido em grandes blocos, que são depois cortados com laser ou lâminas de diamante. A qualidade da matéria-prima é determinante para garantir um cristal com um grau de pureza elevado e uma transparência absoluta. Foi precisamente essa a grande dificuldade técnica que a GT Advanced Technologies não conseguiu ultrapassar. As imagens partilhadas pelo Wall Street Journal mostram grandes blocos em condições que aparentam tudo menos transparência.

Até que seja possível equipar as próximas gerações de smartphones, vamos encontrando o vidro de safira em relógios, instrumentos óticos e caixas de supermercado. E quando a produção em massa for uma realidade, o preço a pagar pode bem ser um passo em frente na concorrência entre marcas: dispositivos ultra resistentes contra riscos e quebra.