Hulk tem nome de super-herói. Uma canhota que parece de outro mundo, tem força que nunca mais acaba e goza de uma fama além-fronteiras. No Brasil nem olham para ele como se fosse grande espingarda. Em Portugal, uns amam-no, outros odeiam-no. Cada vez que ele aparece à frente no Estádio da Luz as articulações do joelho tremem um bocadinho. Há razões para isso: este brasileiro marcou seis golos ao Benfica no passado (para não falar nos rins que acabaram a chorar). Desta vez não marcou, mas assistiu Danny para o único golo da partida (1-0). André Almeida teve a ingrata tarefa de o travar, e até se portou muito bem. O lateral foi, porventura, o melhor do Benfica, ou muito perto disso. O Benfica voltou a ser pequenino na Europa: rematou apenas uma vez à baliza de Lodigin. Salvaram-se os primeiros minutos da segunda parte. Acabou-se o sonho da Liga dos Campeões.

Garay, Javi García, Witsel, Danny e Hulk. Era como uma reunião de velhos conhecidos ou amigos. Samaris, o médio grego contratado pelo Benfica este verão, merecia mais uma oportunidade de Jorge Jesus. Aproveitou? Nem por isso. A lentidão de processos e pensamento é preocupante. Deverá deixar os adeptos e responsáveis benfiquistas apreensivos quando um jogador que custou qualquer coisa como dez milhões de euros tarda em justificar o investimento…

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Ainda a partida estava numa fase de indefinição e Hulk, o vilão da Luz, já assustava Júlio César. Livre batido com muita força, aos 6′, a pingar à frente do guarda-redes brasileiro, que seria resolvido depois de muitas carambolas e sustos. Esta primeira parte teve poucos motivos de interesse. Quando o relógio caminhava para a meia hora, Gaitán e Salvio eram os únicos que tentavam esticar o jogo de um Benfica encolhido, que apenas tinha em mente o contra-ataque. Por estratégia e por imposição do Zenit, pois claro. Do outro lado a história era mais ou menos a mesma, com Hulk a investir em muitas, muitas correrias pelo corredor direito. Apesar de tudo, eram os russos quem estavam melhor, com a linha defensiva subida e intenção clara de trocar a bola — faltava alguém na zona 10 para criar triângulos.

Depois, à passagem da meia hora, o Benfica melhorou, muito pouco, mas melhorou. É que muitas vezes nem passava do meio-campo. Esta equipa continua com muitos défices: identidade, dimensão, dinâmica, andamento e estofo para a Liga dos Campeões. Enzo, a espaços, lá tentava dar um esticão no jogo, mas nada feito. Este homem já não é o mesmo de antigamente. Já não tem a mesma influência — a final do Mundial encurtou-lhe as férias e tirou-lhe dias à pré-época. Talisca era um fantasma, confirmando que em jogos de outro nível desaparece. Ok, a equipa não ajudou, mas o jovem canhoto faz muito pouco.

O intervalo chegaria pouco depois. A registar, três coisas: duelos entre Hulk-André Almeida e Gaitán-Anyukov. Num jogo algo aborrecido, foi delicioso ver estas batalhas. Outra coisa que saltou à vista foi a “entrega” dos jogadores, digamos assim. Houve muita pancada, cartões amarelos. O empate sem golos refletia e bem o que se passava na Rússia. Ninguém merecia ser feliz.

A segunda parte mostrou um Benfica com outra face. Aguerridos, ousados e ambiciosos, os encarnados empurraram, durante cinco minutos, os russos para o canto deles. “Cinco minutos à Benfica”, terão dito alguns. E bem, e bem. Depois de um canto, Luisão recebeu a bola, livre de marcação, ao segundo poste, mas não é nenhum perito a chutar com o pé direito. Na ressaca, a bola voltou a ser cruzada, mas Jardel cabeceou nas orelhas da bola. O Benfica esteve muito perto de inaugurar o marcador. Antes já Gaitán tinha tentado, mas com o pé direito, o que prometia pouco à partida. O Zenit nem conseguia sair, respirar e aventurar-se no ataque. Foi um sufoco, mas estéril.

Gaitán, depois de uma ajudinha de Anyukov (deu-lhe uma folga, finalmente), já na área, cruzou com muito perigo, mas ninguém soube encostar. A resposta chegou por Danny, que deixou um, dois, três rivais para trás e, em vez de se encher de coragem e rematar, preferiu oferecer a Hulk, que entrava na área. Não deu nada. O jogo estava mastigado, e prometia acabar assim.

Até aos 79′ seria só paisagem. Nada de remates perigosos, lances espectaculares ou jogadas com pózinhos perlimpimpim. Até que chegou Danny, o tal homem que, na véspera, disse que “qualquer jogador gostaria de vestir a camisola do Benfica”. Até lá, estraga-se os planos europeus aos portugueses. Do lado direito, Hulk picou a bola para as costas de Samaris, para Danny, que não perdoaria, 1-0. Era o adeus anunciado à Liga dos Campeões. Ola John ainda saltou lá para dentro, mas não emprestou nada à equipa. Afinal, Anyukov é mesmo um osso duro de roer. No final, Luisão, desesperado, virou um avançado russo e recebeu o segundo amarelo. Tal como Samaris, falhará a receção ao Bayer Leverkusen.

Apito final no Estádio Petrovskij. Mais uma desilusão europeia, mais uma eliminação. O balanço é embaraçoso: cinco jogos, três derrotas, um empate e uma vitória (seis golos sofridos e apenas dois marcados). Faltava saber o resultado entre Bayer e Mónaco, que não foi nada amigo. Em Leverkusen, um génio lento de Berbatov pegou na bola, fintou dois, passou-a para Dirar que, na direita, sacou um cruzamento que Lucas OCampos transformou no 1-0 — o tal que durou até ao final. E a vitória do AS Monaco equivaleu a um adieu ao Benfica. Era isto que condenava tudo: uma vitória dos franceses às ordens de Leonardo Jardim tirara os encarnados da Europa. Aconteceu mesmo. Em cinco anos de Liga dos Campeões, Jorge Jesus só disse olá aos oitavos de final uma vez, em 2012. Para o ano há nova tentativa.