É segura e pode ajudar o sistema imunitário a combater o vírus, diz o primeiro ensaio humano de uma vacina experimental contra o ébola. “Promissores” foi a palavra escolhida pelos cientistas do Instituto Nacional de Saúde (NIH) norte-americano para descreverem os resultados da vacina que utiliza um vírus da gripe dos chimpanzés geneticamente modificado. Os resultados foram publicados no New England Journal of Medicine .

“No que diz respeito à segurança e à capacidade de produzir uma resposta imune adequada, podemos dizer que este ensaio teve um sucesso inqualificável, apesar de ser ainda uma primeira fase”, disse Anthony Fauci, da NIH, citado pela BBC.

Andrew Witty, presidente da farmacêutica responsável pelo desenvolvimento da vacina, adiantou que se os próximos passos tiverem sucesso semelhante, planeia avançar com um ensaio maior na Serra Leoa, no início do próximo ano. O ensaio envolveu 20 voluntários imunizados, que foram divididos em dois grupos que receberam diferentes porções da vacina: um recebeu mais, outro menos. Nenhum dos voluntários sofreu efeitos secundários de maior gravidade e todos produziram anticorpos.

A resposta foi mais forte no grupo que recebeu a dose mais elevada da vacina: sete voluntários produziram uma resposta imunitária aos linfócitos T (grupo de glóbulos brancos responsável pela produção de anticorpos sanguíneos e pela imunidade celular). No grupo que recebeu a dose mais reduzida, também houve duas respostas produzidas.

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Atualmente, estão a decorrer quatro ensaios com a vacina experimental. Além do ensaio norte-americano, que se foca em duas estripes – a do Sudão e do Zaire – estão a decorrer outros três no Reino Unido, Mali e Suíça. Nestes três países, o enfoque é monovalente e concentra-se na estripe do Zaire.

A junção destes quatro ensaios, durante a Fase 2 do processo, dirá se a vacina “funciona e é mesmo segura”, explicou Anthony Fauci. “Se daqui a seis meses o surto continuar a ser este e a vacina revelar-se eficaz, pode ter um impacto muito positivo na epidemia“, afirmou. O objetivo é o de produzir uma vacina que, a longo prazo, proteja outro tipo de surtos.

Devido à urgência da epidemia – a Organização Mundial de Saúde divulgou esta quinta-feira que morreram 5.689 pessoas até 23 de novembro, em 15.935 casos de infeção – os ensaios estão a ser conduzidos a uma velocidade sem precedentes. Daniel Baush, do New England Journal of Medicine, avançou que a vacina tinha dado mais um passo em frente, apesar de o ensaio ter deixado muitas perguntas sem resposta.

A empresa inglesa GlaxoSmithKline é a farmacêutica responsável pelo desenvolvimento da vacina e adianta conseguir produzir cerca de um milhão de doses por mês, até ao final de 2015. Contudo, está a solicitar um acordo para uma eventual indemnização, caso surjam efeitos secundários inesperados no futuro.

À BBC, o presidente da empresa avançou que não está à espera que o acordo seja assinado para avançar, mas que, neste tipo de situação, “é óbvio que existem alguns riscos” para as empresas e que não deve ser esperado que elas os carreguem por si próprias. Se os resultados se mantiverem positivos, a vacina pode ficar disponível no segundo semestre do próximo ano.