“Um primeiro-ministro dá orientações, mas não toma decisões de adjudicar obras, empreitadas, parcerias ou de fazer contratos. Isso ou são ministros e secretários de Estado ou dirigentes da máquina do Estado”. No habitual comentário à SIC, Luís Marques Mendes questionou quem serão os outros corruptores envolvidos na Operação Marquês, da qual resultou a prisão preventiva de José Sócrates, indiciado por branqueamento de capitais, fraude fiscal agravada e corrupção. “Corrupção significa que alguma entidade pública, digamos assim, concedeu um conjunto de favores e que alguém recebeu um conjunto de favores”. A pergunta, disse, é uma a que alguém vai ter de responder “mais semana menos semana”.

Marques Mendes argumentou que José Sócrates “é um detido diferente do habitual”. Em cima da mesa poderão estar não um, mas “dois processos” — aquele entregue às mãos da justiça e o outro que tem como palco a praça pública e os órgãos de comunicação social, em que o grande protagonista vai ser Sócrates. “Isto é uma novidade (…) Sócrates vai tentar defender-se com as armas da mediatização”, diz. E caso a entrevista ao jornal Expresso seja negada, “vai fazer-se de vítima”.

O ex-líder do PSD mostrou-se convicto de que o Habeas Corpus para libertar Sócrates — que foi apresentado por um cidadão e cuja decisão é conhecida esta quarta-feira — não terá efeito. “Não é de prever que vá ter sucesso, o que significa que tudo vai-se manter na mesma”. Ainda assim, se confirmada a medida prisão preventiva, adianta que a vitória será da acusação; a ser alterada, “evidentemente que ganha a defesa”.

Um congresso que parece um “funeral”

Sobre o XX Congresso do PS, que começou este sábado de manhã, Marques Mendes traçou um cenário literalmente triste, equiparando-o a um “funeral”. As exceções cabem às participações de António Costa, Manuel Alegre e Sampaio da Nóvoa, sendo que o maior destaque foi para Costa — “tem estado bem” ao separar o que é jurídico do que é a política.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Disse ainda que o agora líder do Partido Socialista, depois de ter destronado Seguro, foi respeitado na orientação assumida — ao não abordar, pelo menos diretamente, o caso José Sócrates, referido no congresso como um “choque brutal”. Mendes é aliás um dos que acredita que a situação em torno de Sócrates vai, à parte de constituir um”embaraço no imediato” para o partido, beneficiar “um pouco” António Costa. “Não quero ser desmancha-prazeres para alguns da maioria que acham que já ganharam”.

Regressando ao congresso, o comentador político considerou que “António Costa convidou Sampaio da Nóvoa de forma intencional”, como se de um teste se tratasse. Dado que ainda não se sabe qual o destino final de Guterres, o “candidato natural às presidenciais”, Costa precisava de uma “alternativa na mão”. “Quando convidou vários independentes (…) foi um pouco para justificar Sampaio da Nóvoa”, o homem que é o “candidato a candidato presidencial”.

Duarte Lima? “A justiça que está a mudar”

Quando questionado a propósito de Duarte Lima, condenado a dez anos de prisão efetiva, Marques Mendes fez saber que, na sua opinião, a justiça está a mudar tanto no “plano das decisões” como no das “investigações”. “Há uma mudança de paradigma”, diz, que pode estar relacionada com a chegada de Joana Marques Vidal. “Desde que a procuradora-geral entrou em funções a justiça está mais liberta (…) Nunca fui apreciador do mandato de Pinto Monteiro”.