As equipas lideradas pelos cientistas Helder Maiato, do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto, e Henrique Veiga-Fernandes, do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa (IMM), foram premiadas na categoria de Investigação Básica, enquanto a de João Taborda Barata, também do IMM; na de Investigação Clínica. Os prémios, no montante de 20 mil euros para cada categoria de investigação (básica e clínica), visam estudos publicados em 2014 em revistas científicas.

O grupo de Helder Maiato demonstrou que a região central das células em divisão é capaz de medir a posição dos cromossomas, estabelecendo um novo paradigma no controlo da divisão celular. O mecanismo atrasa um dos últimos passos da divisão celular – a formação dos novos núcleos – para garantir que os cromossomas se distribuem corretamente entre as células-filhas. Para o investigador-principal, “perceber a divisão celular permite descodificar uma base comum essencial para a vida de todos os organismos, com fortes implicações para a saúde humana”.

A equipa liderada pelo investigador Henrique Veiga-Fernandes identificou uma proteína, a RET, em células estaminais (células capazes de gerar qualquer tecido) da medula óssea e do cordão umbilical, que melhora o seu funcionamento, o que pode contribuir para o sucesso de transplantes em doentes com leucemia ou linfomas.

A molécula em causa pertence ao tipo de proteínas que são ativadas por outras que atuam nos neurónios – células do sistema nervoso – e que, à superfície das células estaminais, funciona como um interruptor, que, quando está ligado, faz com que elas funcionem muito bem, “permitindo uma eficácia terapêutica superior à utilização das células com os métodos convencionais”, disse anteriormente à Lusa o cientista. As células, descreveu, passam a ser mais eficientes, a serem capazes de “resistir, de forma muito eficaz, a agressões celulares que acontecem durante a transplantação”.

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A experiência foi feita com ratinhos, em que a proteína foi manipulada geneticamente. Posteriormente, células do cordão umbilical humano, com mais ou menos expressão da proteína, foram transplantadas, com sucesso, nos roedores. A transplantação de células estaminais é usada no tratamento de leucemias, linfomas e doenças hereditárias do sistema imunitário, mas nem sempre com êxito devido ao seu número limitado.

João Taborda Barata e a sua equipa descobriram como travar a evolução de um tipo de leucemia frequente em crianças, a leucemia linfoblástica aguda de células T (LLA-T), através da utilização de um composto farmacológico, o que abre portas ao desenvolvimento de um tratamento alternativo ao existente. O composto, PF-004777736, foi usado para inibir em doentes o gene CHK1, cuja atividade aumenta neste tipo de leucemia, tendo os investigadores verificado que induzia a morte de células LLA-T, sem afetar as células T normais.

De acordo com João Taborda Barata, o gene CHK1 constitui “um novo alvo molecular para potencial intervenção terapêutica em leucemia pediátrica”. A LLA-T é um cancro do sangue (tumor líquido) que se carateriza por um aumento descontrolado do número de linfócitos T (glóbulos brancos), as células do sistema imunitário responsáveis por identificar e combater agentes externos causadores de infeção.

Para a edição de 2014, foram avaliados 72 trabalhos – 51 de investigação básica e 21 de investigação clínica. O galardão, considerado a mais antiga distinção na investigação biomédica em Portugal, é concedido há 58 anos pela farmacêutica Pfizer e pela Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa.

A cerimónia de entrega dos prémios conta com a presença da secretária de Estado da Ciência, Leonor Parreira.