O antigo primeiro-ministro tunisino Beji Caid Essebsi venceu no domingo a segunda volta das eleições presidenciais com 55,68% dos votos, contra 44,32% para o presidente cessante Moncef Marzouki, anunciou hoje a comissão eleitoral da Tunísia. O candidato laico obteve mais de 1,7 milhões de votos, contra 1,3 milhões para o seu rival, com uma taxa de participação de 60,1%, indicou o presidente da Instância Superior Independente para as Eleições (ISIE), Chafik Sarsar.

Essebsi, 88 anos, tinha reivindicado vitória alguns minutos após o encerramento das assembleias de voto no domingo, mas sem avançar projeções. A equipa de Marzouki contestou de imediato a declaração e referiu-se a uma “distância muito curta” entre os dois candidatos. Após o anúncio oficial dos resultados eclodiram confrontos no sul da Tunísia entre a polícia e populares que contestavam os resultados eleitorais, referiu à agência noticiosa AFP o porta-voz do ministério do Interior.

Na primeira volta do escrutínio, em 22 de novembro, Marzouki venceu por larga margem nas províncias do sul, uma tendência confirmada na votação de domingo. Na povoação de El Hamma, “entre 300 a 400 manifestantes incendiaram pneus e tentaram atacar com pedras a esquadra da polícia. As forças da ordem ripostaram com gás lacrimogéneo”, explicou o porta-voz do ministério, Mohamed Ali Aroui.

Diversos polícias ficaram feridos nos confrontos que se iniciaram na noite de domingo, acrescentou o mesmo responsável, sem mencionar eventuais baixas entre os manifestantes. Numa gravação áudio, Rached Ghannouchi, natural de Hamma e líder do partido islamita Ennahda, apelou à calma e pediu à população para recolher a casa. “Moncef (Marzouki) disse que respeitava os resultados anunciados pela instância [eleitoral]. Querem ser mais realistas que o rei?'”, argumentou Ghannouchi, apelando aos dois candidatos para aceitarem os resultados preliminares.

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Opositor histórico à ditadura tunisina de Zine El Abidine Ben Ali, derrubado na revolução de janeiro de 2011, Marzouki foi designado presidente no final desse ano com o apoio dos islamitas do Ennahda. Durante a campanha presidencial aprofundaram-se as divergências entre os dois candidatos, com Marzouki a identificar Essebsi como o representante da antiga ditadura tunisina, enquanto este último denunciava os compromissos do chefe de Estado cessante com os islamitas.

Designado primeiro-ministro provisório em fevereiro de 2011, Essebsi conduziu o país para as primeiras eleições livres da sua história em outubro de 2011, que o Ennahda então venceu. Após a independência em 1956, foi ministro do Interior, da Defesa e dos Negócios Estrangeiros de Habib Bourguiba, e depois presidente do parlamento em 1990-1991 sob Ben Ali.

Pelo contrário, Marzouki — que acusou o seu adversário de ser um produto do sistema deposto e procurar reproduzir o antigo regime –, esteve exilado durante vários anos em França durante o regime autocrático de Ben Ali. Ao vencer as presidenciais, Caid Essebsi garante um duplo sucesso após a vitória do seu partido Nidda Tounès (Apelo da Tunísia), mas por maioria relativa, nas legislativas de outubro.