Foram tempos “entusiasmantes” os da crise financeira global, afirmou Lord Mervyn King, que liderou o Banco de Inglaterra entre 2003 e 2013. O antigo governador do banco central britânico diz que foram as suas decisões, a par das tomadas pelo presidente da Reserva Federal dos EUA, na altura Ben Bernanke, que evitaram que a crise financeira se transformasse numa Grande Depressão semelhante à da década de 1930.

Foi entusiasmante e fascinante, foi o tipo de problema para o qual tínhamos sido formados ao longo de muitos anos“, recordou Mervyn King, numa conversa com Ben Bernanke para a BBC Radio 4, citada pelo The Guardian. “Julgo que tanto o Ben [Bernanke] como eu sentimos que, tendo passado uma boa quantidade de tempo a pensar sobre os fundamentos intelectuais associados ao que se deve fazer numa crise bancária, ter a oportunidade de lidar com uma foi algo para que estávamos bem preparados”, continuou.

Mervyn King acrescentou que, em outubro de 2008, depois do colapso do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, a crise já estava numa fase em que se tornara mais fácil de combater. Nessa altura, “a solução era mais óbvia. Pior foi em 2007, quando tudo era menos óbvio”, comentou o antigo governador do Banco de Inglaterra.

A “solução”, para o Banco de Inglaterra e também para a Reserva Federal, foi atirar as taxas de juro para mínimos históricos e arrancar, de imediato, com programas de compra de dívida privada e pública. Um programa que ainda decorre no Reino Unido e que, nos EUA, só em outubro foi concluído.

O interlocutor de King nesta conversa radiofónica, Ben Bernanke, lembra os tempos da crise financeira como tempos “com muito stress, sem dúvida”. “A crise foi tão complicada, havia tantos aspetos associados a ela e a resposta da Reserva Federal e do Banco de Inglaterra foi tão complexa, com tantas peças em movimento que me sentia como um piloto no ‘cockpit’ de um avião, sempre atento a todas as luzinhas vermelhas que começavam a piscar”.

Essa reatividade de que fala Ben Bernanke, entretanto substituído por Janet Yellen ao leme da Reserva Federal, acabou, todavia, por ser um fator positivo. “Porque estávamos tão concentrados em cada tarefa específica, tentávamos não estar sempre a pensar nas consequências para o mundo das decisões”, disse Bernanke. “Isso ajudou um pouco”, recorda.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR