Dezenas de familiares dos passageiros do voo QZ8501 estão esta quarta-feira mais conformados com o desfecho do acidente do avião da AirAsia, enquanto aguardam pela chegada dos primeiros corpos, segundo o diretor do aeroporto de Surabaia. O estado de espírito das dezenas de familiares que têm passado os últimos dias no centro de crise instalado do Aeroporto Internacional de Juanda, em Surabaia, “está a melhorar hoje”, porque eles “já compreenderam a condição” da situação, numa altura em que foram encontrados os primeiros corpos, disse à Lusa Trikora Harjo.

E muitos ainda acreditam num milagre. “Eu tenho esperança que ele esteja vivo, porque creio que esta não é a altura para ele partir. Talvez algum milagre possa trazê-lo de volta para mim”, confessou à Lusa Melly Aprilia, cujo namorado seguia no voo da AirAsia da manhã de domingo de Surabaya com destino a Singapura, com 162 pessoas a bordo.

A jovem indonésia de 23 anos, cuja voz denuncia a fragilidade da sua esperança, acrescentou que o namorado “é uma pessoa forte” e por isso que ainda acredita “que ele esteja” vivo. “Ainda estou confusa com a AirAsia. Porque é que eles voam quando o tempo não esta bom? Eu penso que isto não está ainda respondido”, questionou.

Melly Aprilia contou ainda que juntou as suas orações às de quatro amigos do namorado, antes de regressar para o centro de crise do Aeroporto Internacional de Juanda, em Surabaia, onde permanecem dezenas de familiares e amigos dos passageiros do voo QZ8501, muitos unidos em orações conjuntas apesar de professarem diferentes religiões.

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“Keep de Faith” (“Mantém a fé”, em inglês) é a mensagem que Malvi Kartiwan Suyanto traz na camisola e também no espírito, numa altura em que toda a família reserva as manhãs para rezar o rosário na casa da sobrinha, que viajava no voo da AirAsia. “Ainda há uma possibilidade de ela estar viva, porque a saída de emergência foi aberta. Logo, nós ainda mantemos a fé”, justificou o indonésio, que professa a religião católica.

Malvi Kartiwan Suyanto mostrou à Lusa mensagens de apoio num blogue de amigos da sobrinha, que é professora de biologia em Singapura, e lançou um apelo: “Esperamos que todos possam rezar connosco para que eles possam estar salvos”.

O primo, Herdrawan Santoso, entrou na conversa para dizer que toda a família ama a sobrinha e que “a mãe o pai dela têm uma grande esperança, porque eles apenas têm dois filhos”. “Eu não quero fazer suposições e não quero culpar ninguém, porque ninguém podia prever que isto ia acontecer”, respondeu Malvi Kartiwan Suyanto, elogiando a resposta da AirAsia ao sucedido, dado que “eles admitiram a sua responsabilidade” e “foram compreensivos” com os familiares.

Processo de identificação dos corpos “será rápido”

Apesar de o sentimento geral ser de alívio, “um a três” familiares ou amigos dos passageiros ainda têm esperança de que será possível encontrar com vida alguma das 162 pessoas que seguiam a bordo do avião da Air Asia, que partiu domingo de manhã de Surabaia com destino a Singapura, adiantou. Numa altura em que a retirada dos corpos do mar de Java está a ser condicionada por condições atmosféricas adversas, as famílias vão continuar a aguardar no aeroporto, acrescentou.

O mau tempo obrigou, esta manhã, as autoridades indonésias a suspender as operações de resgate dos corpos. “Estamos com mau tempo agora. As chuvas e os ventos impediram-nos de retomar a operação esta manhã”, disse o coordenador das operações de resgate da Força Aérea, S.B. Supriyadi, à agência AFP. De acordo com Trikora Harjo, desde terça-feira à noite que dezenas de familiares têm fornecido o seu ADN às autoridades, algo que poderá ser útil para identificar as vítimas.

“Se eles precisarem de ir para o hospital da polícia, vou encaminhá-los”, adiantou Trikora Harjo. Segundo o mesmo responsável, “alguns deles tiveram aconselhamento” dos “cerca de seis” psicólogos que estão a prestar apoio no centro de crise no aeroporto.

Em conferência de imprensa esta manhã no aeroporto, o diretor executivo da AirAsia Indonésia, Sunu Widyatmoko, referiu que a empresa vai criar “perto da instalações da polícia local” de Surabaia um centro de crise semelhante ao que tem apoiado os familiares das vítimas no aeroporto desde domingo passado.

O local onde os familiares dos passageiros se encontram acomodados também será alterado “para uma área perto do hospital”, de acordo com o mesmo responsável. “Se a condição dos corpos permitir, eu creio que o processo de identificação será rápido”, respondeu aos jornalistas Budiono, o líder dos serviços de saúde da polícia da Java Oriental.

Budiono, responsável pelo processo de identificação das vítimas do desastre, deu conta de que a polícia tratou de toda a logística para receber os corpos no Hospital Bhayangkara, onde já se encontram “todos os recursos humanos e muitos especialistas”.

Entretanto, o chefe da Agência Nacional de Busca e Resgate, Bambang Soelistyo, disse, numa conferência de imprensa em Pangkalan Bun, a cidade com a pista de aterragem mais próxima do local do acidente, que seis corpos já foram recuperados, incluindo uma mulher vestida com um uniforme da tripulação.

Um porta-voz da Marinha disse à agência AFP na terça-feira que mais de 40 cadáveres foram resgatados, mas mais tarde afirmou que a informação resultou de uma falha de comunicação. Os destroços do Airbus foram encontrados no Estreito de Karimata, a cerca de 185 quilómetros a sudoeste da cidade de Pangkalan Bun.

O avião da AirAsia partiu no domingo passado de Surabaia com destino a Singapura, onde deveria ter aterrado cerca de duas horas depois com 162 pessoas a bordo. O piloto pediu à torre de controlo na Indonésia para virar ligeiramente à esquerda e subir de altitude para evitar uma tempestade, antes de perder a comunicação.