Era uma espécie de Jordan Belfort, o “Lobo de Wall Street”, com a mesma paixão por carros desportivos e por festas excêntricas que tinha a personagem recentemente encarnada por Leonardo DiCaprio, mas com sotaque russo. Kim Karapetyan, de 29 anos, era uma vedeta do mundo financeiro da Rússia e presidente de um fundo de cobertura de risco (“hedge fund”) em ascensão à escala internacional. Desapareceu, sem deixar rasto, no final do ano passado e levou consigo todo o dinheiro dos clientes.

O nosso presidente, simplesmente… desapareceu“, afirmou o engenheiro informático Sergey Grebenkin, em entrevista ao jornal que conta a história do desaparecimento de Kim Karapetyan, o The Wall Street Journal. Karapetyan liderava o Blackfield Capital CJSC, uma firma que caiu num caos absoluto desde que três agentes policiais entraram de rompante nas instalações do “hedge fund”, no centro de Moscovo. Foi em meados de outubro, e o presidente já não aparecia no escritório havia vários dias. Ninguém estranhou.

Os agentes policiais iam à procura do presidente e dos dois irmãos, Henry e Haik, que também trabalham na empresa mas que não quiseram prestar declarações à reportagem do The Wall Street Journal. Dois dias depois, os funcionários foram informados pelos executivos da empresa de que não estava a ser possível contactar Kim Karapetyan e que todos os ativos da Blackfield, isto é, o dinheiro dos clientes, tinham desaparecido. Seria algo na ordem dos 20 milhões de dólares. Não havia dinheiro para reembolsar os clientes, nem para pagar ordenados.

O caos absoluto contado pelo jornal norte-americano contrasta com a euforia e a excentricidade dos anos anteriores, altura em que o Blackfield se transformava rapidamente numa estrela em ascensão no mundo financeiro russo, com festas de arromba que incluíram um concerto exclusivo da boy band Blue na passagem de ano de 2013 e um espetáculo “Alice no País das Maravilhas” com muita música, cenários e uma trapezista que enchia copos de champagne enquanto “levitava” por cima das cabeças dos funcionários.

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No centro de tudo estava Kim Karapetyan, com a sua penthouse recém-adquirida numa das zonas mais caras de Moscovo e um apartamento arrendado por 15 mil dólares mensais em Nova Iorque, à beira de Wall Street. E, também, um Aston Martin Vanquish avaliado em mais de 250 mil euros. É desconhecido o paradeiro de Karapetyan, que apagou as contas de e-mail e até a página de Linkedin, uma rede social para o mundo profissional. O telemóvel também está inativo há meses.

“As estratégias de investimento do Blackfield Capital são focadas na preservação de capital e na obtenção de retornos positivos constantes independentemente das dinâmicas do mercado”. Esta é a informação que consta na página na Internet doa Blackfield Capital, que continua ativa e a ostentar o slogan “somos cientistas”. O Blackfield, fundado em 2009, usava algoritmos para analisar padrões de mercado e transacionar em milissegundos nos mercados.

“Somos cientistas. Introduzimos estabilidade no caos. Os nossos processos de investimento, totalmente sistemáticos, ajudam a evitar o erro humano, os preconceitos cognitivos e os erros emocionais de negociação”. O CEO do Blackfield, em inglês “campo negro”, terá caído não num campo negro mas num “buraco negro”, e está excluída a hipótese de ter regressado a Londres para dar seguimento ao Mestrado em Economia que tinha alegadamente realizado na London School of Economics. Uma universidade prestigiada que, na realidade, não tem qualquer registo de um aluno chamado Kim Karapetyan.