Qual é coisa qual é ela que tem mais de 100 quilos e o dom de meter respeito a qualquer comum dos mortais? “Um panda gigante”. OK, era uma possibilidade, mas falamos de homens elevados ao estatuto de monstros. Já ouviu falar de Adebayo Akinfenwa? Pois bem, aqui está uma história deliciosa. Este homem é considerado o jogador mais forte do mundo, atestado em tempos até pelo 98 de força no FIFA. Jogou na Lituânia com 18 anos, onde foi vítima de racismo, mas depois resolveu a final da Taça e virou herói. Abriu uma loja e voltou para o Reino Unido, onde marcaria cerca de 150 golos e criaria uma linha de roupa (“Haha”, para se rir daqueles que não acreditavam que poderia ser jogador de futebol). Aos 32 anos, este senhor que pesa 103 quilos acabou de marcar um golo ao clube do coração: o Liverpool.

https://www.youtube.com/watch?v=rV5KtvXM4yY

Vamos por partes. O Liverpool foi segunda-feira ao terreno do Wimbledon disputar mais uma eliminatória da Taça de Inglaterra (FA Cup). Steven Gerrard, que há poucos dias havia comunicado o adeus ao clube de sempre, bisou. Mas aqui a história está no autor do golo dos homens da casa. Akinfenwa, cujo herói de sempre era John Barnes, um antigo craque do Liverpool (1987-1997), empatou a partida aos 36′. Sim, fez falta sobre Mignolet, mas ignoremos o pormenor, até porque foi um autêntico Flash Gordon a reagir ao ressalto. Este avançado com ascendência nigeriana perdeu, mas ganhou a camisola de Gerrard, graças a uma retórica espetacular e inspiradora perante os colegas de equipa (ironia: ameaçou que lhes daria um murro se lhe roubassem essa pequena glória, conta o Telegraph).

Aquela velha história de “o gordo vai à baliza” é algo que não assiste a este inglês natural de Islington, Londres — até porque aquele tronco e braços devem estar revestidos de betão armado. Queria ser avançado, e foi. E já leva cerca de 150 golos na carreira. Numa entrevista ao Guardian, em março de 2013, Akinfenwa afirmava que os seus braços seriam do mesmo tamanho das pernas do John Terry, um defesa com quem gostava de competir (na verdade ele usou a palavra “smash”, que pode significar algo como quebrar ou esmagar). Tal como com Kompany, Desailly, Sol Campbell e Vidic, que parecem todos grandes e bons rapazes. Na peça, e provavelmente a muitos quilómetros do jogador, o autor escreveu que o pequeno-almoço de Afinfenwa costuma ser um chá e, às vezes, só às vezes, um croissant. Até aqui tudo bem, não tivesse o jornalista cedido à tentação de escrever que o croissant deverá ter uma vaca a embrulhar o mesmo…

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Aos 18 anos, por paixão mas também para fugir às tentações obscuras das ruas de Londres, o britânico seguiu viagem para a Lituânia, para jogar no FK Atlantas. A vida não começou nada bem. No primeiro jogo de pré-época ouviu cânticos que culminavam com um “matem esse preto”, contou na mesma entrevista ao Guardian. O irmão deixou-o à vontade para um regresso a Londres, mas a mente de aço do rapaz convenceu-o a ficar, até ser o herói da final da taça daquele país. Depois ganhou o respeito de todos e até abriu uma loja de equipamento desportivo. “Era só ignorância antes”, explicou.

É viciado em ginásio e levanta qualquer coisa como 180 quilos. Jogou em dez clubes em oito anos, incluindo quatro num ano, lembrava o Daily Mail, em 2013. Em 2014 assinou pelo Wimbledon, o 12.º classificado da League Two (quarta divisão), e já leva oito golos em 22 presenças. “Eu gosto de ser o maior no relvado, eu não quero olhar para os outros e achar que os braços deles são maiores que os meus”, disse, sem pudor, numa entrevista ao Telegraph, em agosto de 2014. Esta história de ser o maior é algo que gosta, mais ainda quando viu que era o mais forte no FIFA 2014. “Se eles dizem, deve ser. Eu gosto disso. Joguei comigo umas vezes e sou muito lento. Já pedi ao FIFA para me fazerem um bocado mais rápido, mas não podes ter tudo”, contou.

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“Acho que sou, definitivamente, um jogador parecido com o Didier Drogba. Nunca fui para uma liga superior porque há uma perceção de como um jogador de futebol deve aparentar e eu não encaixo no molde”, disse numa entrevista ao Northampton Chronicle, em dezembro de 2012. “Não quero ser arrogante, mas marquei mais de 150 golos em 300 jogos em que fui titular. Pergunta aos defesas ou aos treinadores rivais, eles vão dizer-te que sou um caso sério.”

Akinfenwa inventou ainda a expressão “Beast Mode On”, que aplica para inspirar outros e deixar muito claro de que fibra é feito. “Não deixem as pessoas definirem as vossas limitações por vocês. Soa um bocado a cliché, mas isso é o que eu acredito verdadeiramente. Para aqueles que dizem que não consegues fazer algo, eu tenho mais de 100 golos. Isso é o ‘Beast Mode On’.”