Em duas décadas, desde os 1940 até 1962 os cientistas descobriram mais de 20 classes de antibióticos. Mas de então para cá já lá vão cinco décadas e só foram descobertos mais duas classes novas de antibióticos. São estes dados que, como refere Ed Yong, um divulgador científico, numa rubrica na National Geographic, mostram como pode ser importante a identificação de um novo antibiótico por uma equipa multinacional, a qual traz uma nova esperança no combate às infeções bacterianas. Porque, como referem os autores do artigo publicado esta sexta-feira na Nature, “a resistência aos antibióticos está a espalhar-se mais depressa do que a introdução de novos compostos na prática clínica, causando uma crise na saúde pública”.

A equipa de investigadores liderada por Kim Lewis, do Centro de Descobertas Antimicrobianas da Northeastern University, em Massachusetts (Estados Unidos), confirma que a fonte de antibióticos com base em microrganismos do solo se esgotou nos anos 1960 pela dificuldade em cultivar as restantes bactérias em laboratório. Estas bactérias que ficaram por estudar constituem cerca de 99% das espécies existentes no solo, logo um enorme potencial de descoberta de novas moléculas com propriedades antimicrobianas. Ao arranjarem uma forma de criar estas bactérias em laboratório, os cientistas descobriram o composto teixobatina com potencial para combater várias bactérias, como a Staphylococcus aureus, responsável por graves infeções hospitalares.

A multirresistência aos antimicrobianos, não só de bactérias, mas também de parasitas, vírus e fungos, é um dos motivos de preocupação da Organização Mundial de Saúde (OMS) que lançou um alerta em relação as perigos para a saúde pública em termos globais. “Em 2012, houve 450 mil novos casos de tuberculose multirresistente”, refere a organização em comunicado, acrescentando que tem aumentado a resistência a antibióticos em bactérias responsáveis por infeções comuns, como infeções urinárias ou pneumonia. Ou mesmo a gonorreia que a OMS teme que se possa tornar uma doença virtualmente intratável.

As bactérias comunicam com outras bactérias produzindo compostos, alguns deles com características antimicrobianas (para controlar o crescimento das comunidades de microrganismos vizinhos). O composto teixobatina agora encontrado combate as infeções bacterianas impedindo a formação da parede celular de bactérias Gram positivas – contra as Gram negativas não é eficaz porque estas estão protegidas por uma membrana adicional. Quando testado em ratos de laboratório, teixobatina combateu as bactérias e quando em contacto com algumas bactérias agressivas não permitiu que estas desenvolvessem resistência. Ou seja, mesmo que as bactérias se tenham mutado durante o processo, a teixobactina continuou a mostrar-se eficaz contra as bactérias modificadas.

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Um composto tão tóxico para as bactérias poderia tornar-se agressivo no organismo humano, mas os cientistas não encontraram nenhum efeito nefasto em células de mamíferos em cultura, refere o National Geographic. Os cientistas terão agora de testar o novo antibiótico noutros animais antes de poderem pedir a aprovação dos testes em humanos, que pode acontecer dentro de dois anos segundo Kim Lewis.

Apesar de aparentemente as bactérias não serem capazes de desenvolver resistência contra este antibiótico, isso não é absolutamente garantido – as bactérias levaram cerca de 30 anos a tornarem-se resistentes ao antibiótico vancomicina, por exemplo. No caso do teixobactina, os cientistas esperam que demore mais, mas de qualquer forma o tempo que as bactérias demorarem a ganhar resistência permitirá encontrar novos antibióticos.

Com a quantidade de bactérias existentes no solo e com a técnica desenvolvida para as cultivar em laboratório, esta equipa tem à disposição as ferramentas necessárias para novas descobertas nesta área. Até agora já isolaram 10 mil estirpes de bactérias nas quais encontraram 25 potenciais antibióticos – embora o teixobactina fosse o melhor candidato até ao momento -, refere a Nature News.