“Vamos ter um bebé!”. É esta, por norma, a frase que serve como pontapé de saída para a aventura da parentalidade. Ao longo de nove meses de gestação, a transformação vive-se a dois, embora seja mais intensa para ela, alvo maioritário de atenção. Mas e ele? Como se adaptam os homens à notícia de que vão ser pais e quais os principais desafios na relação com a parceira?

Em busca de respostas, o Observador reuniu cinco testemunhos de maridos e namorados que foram pais há relativamente pouco tempo – um editor de vídeo, três gestores e um médico. Qual o objetivo? Pedir conselhos para que os homens consigam, com sucesso, “sobreviver” ao período da gravidez: desde ter cuidado na forma como se fala com a futura mãe a participar em todo o processo, não descurar o sexo que, segundo dizem, tem uma grande probabilidade de melhorar nesta fase, e aproveitar os últimos momentos a dois, sem choros e birras à mistura.

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A mulher é muito sensível em relação à transformação do corpo, assegura o gestor André Ribeiro, motivo pelo qual todo o cuidado é pouco. “Toda e qualquer questão sobre o peso da mãe é proibida! Peso, só o do bebé”.

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José Nuno Guerra, também ele gestor, confirma a mesma teoria e explica que é necessário existir um equilíbrio muito grande. “A Inês não gostava muito que eu dissesse para não comer, mas no final agradeceu-me. No próximo filho vamos ter mais cuidado com isso”, garante. “É sempre um tema sensível. Deve-se ter cuidado e ponderação na forma como se dizem as coisas”.

“O que não se pode dizer? Que ela está muito gordinha”, avança Andrés Gutierrez, editor de vídeo de uma estação de televisão. “Temos de ter muito cuidado porque, às vezes, dizemos coisas que podem ser mal percebidas. Elas estão num carrossel de emoções”. A propósito disso, recorda-se daquela vez em que, no início da gravidez, estava a conversar com a mulher sobre as mudanças que aí vinham. “Começámos a pensar nas coisas e como tudo ia ser diferente e disse-lhe que, quando fosse sair, já não podia beber. Fixou isso e começou a chorar e a dizer ‘Não quero, não quero’”. Hoje, passado o momento de aflição, o pai do Diogo recorda-se da situação com humor.

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É um dos conselhos mais importantes, na opinião de Rui Soares. O médico coimbrão de 37 anos explica que é preciso ter em conta o ócio do casal, isto é, o desfrutar dos últimos momentos sem um filho. “Demos muito valor a isso”, conta. “As últimas férias, os jantares a dois, os passeios de fim de tarde… por ser os últimos nove meses que estaríamos em ‘paz’”. Por essa razão, o casal foi quatro vezes de férias estando já a mulher grávida do Tomás.

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“No primeiro e último trimestre, a mãe age de forma protetora. No primeiro pode ter medo que alguma coisa funcione mal e no último é por desconforto. Nestas fases, o sexo é muito adaptado”, explica Rui Soares. O médico acrescenta que durante o segundo trimestre há a chamada “fome sexual”, numa altura em que as mulheres tendem a perder o medo e alguns tabus. “Isso pode fazer com que a vida sexual do casal melhore”.

André Ribeiro concorda. “O sexo na gravidez não é proibido, na maior parte das vezes é recomendado”, diz. “E, digamos, há uma fase em que há maior predisposição”, conta divertido.

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É preciso levar as coisas ‘na boa’, assegura Andrés Gutierrez. “Temos de estar disponíveis para ajudar porque elas [as companheiras] também estão a passar por algo completamente novo”. O editor de vídeo de nome espanhol explica que o estar presente é uma forma de viver o processo, considerando que as futuras mães experienciam a maternidade de uma forma mais intensa. “O homem não vive a gravidez da mulher, o homem acompanha-a”, opina.

João Maria Condeixa, de 37 anos, partilha da mesma ideia. “Há aquela tendência para a mãe pedir para sentir o bebé e, depois, estranha por não termos a mesma euforia”, conta o pai da pequena Margarida de apenas três meses. “No início parecia que era eu que não queria participar muito na maternidade. Pais, esforcem-se!”, apela o gestor. E dá um exemplo muito prático: “Nunca faltem a uma ecografia. Pelo filho, que vão gostar de ver em todas as etapas de crescimento, e pela mulher, que, mais cedo ou mais tarde, vai cobrar-vos se alguma vez faltarem”, diz divertido.

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“Fiz esse acompanhamento desde o início, desde que soubemos que estávamos à espera do primeiro filho”, conta José Nuno Guerra. O gestor aveirense conta ao Observador que tentou não deixar nenhum pormenor para o final da gravidez, altura em que é preciso dar mais “miminhos à mãe”. Foi praticamente tudo pensando antes da chegada do João, hoje com um ano e três meses, à exceção da questão em torno das células estaminais, cuja decisão foi “em cima do joelho”.

Ainda assim, José Nuno Guerra assegura, num tom divertido, que “há coisas em que os homens não se devem meter”. Não que eles não tenham uma opinião a dar, mas o gestor confessa que não se importa de deixar a mulher tomar algumas decisões. Seja disso exemplo a roupa dos filhos: “As mães gostam de apaparicar os meninos com roupa de colégio, eu prefiro deixá-los confortáveis”.

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O filho de José Nuno Guerra nasceu de cesariana, pelo que as aulas de preparação para o parto foram uma grande ajuda num momento de maior aflição para os futuros pais. “Tinha uma imagem errada disso [da cesariana] e a preparação foi muito importante para não entrar em pânico”.

André Ribeiro, a trabalhar em Lisboa, concorda e relembra que é importante ouvir a opinião dos outros pais que participam nas aulas, de modo a deixar o casal de primeira viagem mais tranquilo.

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Ter a capacidade de encaixe para ouvir os conselhos dos outros é fundamental, uma vez que “todos vão dizer uma coisa e o seu inverso”, explica João Maria Condeixa. Assegura que cabe ao futuro pai a capacidade para ouvir as várias dicas e aplicar o bom senso, considerando que muito do que se diz corre o risco de afetar a parceira. “A mulher está envolta numa carga hormonal muito grande e a isso soma-se uma carga de conselhos (…) É bom irmos introduzindo alguma racionalidade na gravidez”.

“Cada geração tinha a sua receita caseira para o que quer que fosse”, conta André Ribeiro, referindo-se às muitas mezinhas que foi conhecendo ao longo da gravidez da mulher. “Pais e não pais, todos têm uma opinião dentro da maternidade. Às vezes é irritante e afeta muito mais a mãe do que o pai”. Por isso mesmo, conta que usou livros especializados na área, com destaque para aqueles do pediatra Mário Cordeiro.

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É Andrés Gutierrez quem o diz. Aos 34 anos, o editor de vídeo acolheu o pequeno Diogo nos braços faz cinco meses, pelo que um dos primeiros conselhos que dá a todos os futuros pais é que não entrem em pânico. Andrés salta de imediato para um período pós-gravidez: “Não se assustem quando o bebé começar a chorar ou com as diversas situações do dia-a-dia, isto é, os cocós, as cólicas e a falta de sono”.

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O momento em que se é pai só chega no dia do nascimento, conta João Maria Condeixa, recordando-se, de imediato, do dia em que a Margarida chegou à sua vida. “De um instante para o outro somos confrontados com alguém que nos é completamente estranho e que, numa questão de segundos, diz-nos tanto. Ali é que somos confrontados com a parentalidade. E é o momento mais espetacular”.

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André Ribeiro conta que, além dos livros mais sérios que acompanharam a gravidez da namorada, divertiu-se também com as histórias retratadas em tiras de banda desenhada — “Existe uma série de BD, os “Baby Blues“, que é muito gira porque acabamos por associar, de uma forma engraçada, as nossas experiências às que são descritas nos livros”.

No dia em que a Teresa entrou em trabalho de parto, o casal só disse e fez disparates, conta João Maria Condeixa. “Houve muito sentido de humor entre nós os dois e isso refletiu-se na boa disposição da Margarida”, remata orgulhoso.