Durante a homilia desta quinta-feira, Dom Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa, aproveitou a oportunidade para se referir aos recentes acontecimentos em França, dizendo que “não se pode pôr em causa a liberdade de expressão”. Mas deixou claro que a “liberdade é responsabilidade”, questionando até que ponto se pode “denegrir e ridicularizar as convicções dos outros” e criticando a forma como o jornal tratava a figura de Maomé.

“No uso de todas as liberdades deve observar-se o princípio moral da responsabilidade pessoal e social. No exercício dos seus direitos, todos os indivíduos e grupos sociais são moralmente obrigados a ter em conta os direitos dos outros e os seus deveres para com os demais e para com o bem comum. Com todos se deve proceder em justiça e humanidade”, disse o bispo de Lisboa, citando o número 7 da Declaração sobre a liberdade religiosa.

O Patriarca escolheu a homilia desta quinta-feira para falar sobre o martírio de São Vicente que, por ser um cristão confesso, foi morto pelas mãos dos romanos, mas aproveitou para se referir à situação dos “terroristas, ditos ‘islâmicos’, [que] assassinaram jornalistas de uma revista polémica [Charlie Hedbo], que tratara irreverentemente a figura de Maomé”. Dom Manuel Clemente lembrou que além da “grande manifestação de condenação do ato e em defesa da liberdade de expressão”, se suscitou também “a reflexão sobre a liberdade e a responsabilidade”.

“Quando as sociedades ou grupos sofrem necessidades imediatas de subsistência e segurança, tais convicções são geralmente coercivas e tidas como condição de sobrevivência geral”, mas “quando as sociedades conseguem, ao menos em grupos determinantes, alguma segurança e disponibilidade individual, tal permite maior capacidade de reflexão e assunção pessoal das crenças ou descrenças, em progressiva tolerância para com os outros”, referia o bispo de Lisboa, lembrando os “inevitáveis debates sobre segurança coletiva versus liberdade individual”.

As palavras do Patriarca de Lisboa surgem uma semana depois das declarações do Papa Francisco aos jornalistas durante o voo para Manila: “Não podemos provocar, não podemos insultar a fé dos outros, não podemos ridicularizá-la.” Embora a liberdade de expressão seja um “direito fundamental”, deve “exercer-se sem ofender”.

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