As uniões dos casais que tiveram bebés prematuros permanecem passados cinco anos após o nascimento dos filhos, o que sugere que a prematuridade tem efeito de coesão e não de rutura, conclui um estudo desenvolvido no norte de Portugal.

Dos casais estudados (20), todos do norte de Portugal, progenitores pela primeira vez e com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos, 65% continuavam casados ou em união de facto volvidos cinco anos, disse à Lusa Elisa Veiga, autora do estudo “A transição para a parentalidade — o caso da prematuridade” e professora da Universidade Católica no Porto.

A investigação demonstrou que as relações de homens e mulheres com filhos prematuros têm um “movimento contrário” às elevadas taxas de divórcio registadas em Portugal, “porque há uma situação que torna a relação mais forte e tem um efeito de coesão e não de rutura”, explica a psicóloga.

Apenas dois dos casais entrevistados, que foram pais de gémeos prematuros, revelavam “muita tensão e algum desencontro na relação, estando estas dificuldades relacionadas com a “ansiedade materna”, conta Elisa Veiga, sublinhando, todavia, que “nenhum dos casais estava em situação de rutura”.

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No caso de gémeos prematuros, por representarem uma maior sobrecarga, os pais estão mais tensos, com as mães mais ansiosas e exaustas e os pais tendem a ser mais intolerantes com as mulheres, apesar de entenderem o desgaste delas face a uma rotina muito exigente, acrescenta a especialista.

“A experiência [de ter um bebé prematuro] é muito mobilizadora”, conta a investigadora e também professora de Psicologia na Universidade Católica do Porto, referindo, por exemplo, que o pai está muitíssimo presente na educação do filho e muito “apetrechado” para prestar cuidados às crianças em todas as tarefas diárias.

A maioria dos casais optou por não colocar o seu bebé em creches pelo menos até aos dois anos de idade, e as soluções passaram pelas mães deixarem de trabalhar para ficar a tomar conta do bebé, ou então deixá-los com avós ou amas “muito especiais”, que em ambos os casos se deslocam a casa do bebé.

Apesar de a maioria dos casais se manter unida, apenas um casal estudado avançou para um segundo filho.

O estudo foi realizado em três momentos cronológicos diferentes da vida dos casais que receberam nos braços um, ou dois, bebé(s) prematuro(s).

A primeira entrevista foi realizada aos casais durante o internamento hospitalar do bebé, uma segunda entrevista realizou-se dois meses depois da alta hospitalar na casa do casal. Por fim, cinco anos depois, numa altura em que os prematuros estão prestes a entrar para o 1.º ano de escolaridade.

Passados os cinco anos do nascimento do prematuro, as progenitoras estão “muito exigentes” com os seus filhos por causa da entrada para a escola. Essa exigência traduz a ansiedade das mães que querem que os filhos sejam bons alunos, valorizando, por exemplo, a opinião e orientações das educadoras de infância ou comprando fichas de trabalho para estimular os seus filhos.

Em Portugal nascem, por ano, cerca de mil bebés prematuros.

A prematuridade está a aumentar em Portugal na ordem dos 20 a 30%, e o crescente número de prematuros pode estar relacionado com fatores como “infeções intrauterinas, hábitos da vida moderna, mães fumadoras e stresse”, explicou à Lusa Hercília Guimarães, diretora do Serviço de Neonatologia do Hospital de São João (Porto).