Não é caso frequente, muito menos em questões europeias, onde PSD e CDS se afastam em vários pontos, mas Paulo Portas defendeu este sábado Pedro Passos Coelho das críticas do líder do PS, a propósito do novo plano do Banco Central Europeu (BCE) para compra de dívida dos Estados da UE.

“O secretário-geral do PS fez uma leitura apressada da decisão do BCE”, disse o vice-primeiro-ministro, numa sessão de preparação do programa centrista para a próxima legislatura. Portas deu três motivos para essa dita “leitura apressada”:

  1. A decisão do BCE, disse, “destina-se a países que cumprem os objetivos ou têm uma trajetória que visem esses objetivos” – deixando à distância países como a Grécia ou Chipre;
  2. “Por outro lado, olhando a partilha de riscos, 80% ficam nos bancos centrais e 20% no BCE – o que é diferente da mutualização de que o PS fala”;
  3. “Mas, finalmente, um ponto decisivo: se Portugal tem seguido o conselho ou a posição do PS, de que era preciso pedir mais tempo ou pedir mais dinheiro, ainda tínhamos a troika, estaríamos em cima da mesa com um empréstimo cautelar, não poderíamos beneficiar da decisão do BCE e não podíamos dar sinais de recuperação para a vida das pessoas”, disse Portas.

No Largo do Caldas, os jornalistas ainda questionaram o líder centrista sobre se Passos não tinha sido contrariado pela nova estratégia, mais agressiva, de Mario Draghi. E Portas respondeu assim: “Já ontem isso foi foi nítido: as pessoas precisam de informação verdadeira para o exato estado conteúdo da decisão do BCE. A decisão não se destina a países que não cumprem, que não mostrem uma trajetória de estabilidade. Por isso, Draghi foi prudente relativamente ao Chipre ou à Grécia. Por outro lado, o PS sempre defendeu – e era legítimo que o fizesse – que pedíssemos mais tempo e dinheiro. Apenas posso dizer hoje que estavam errados. Não poderíamos beneficiar do BCE”. E acrescentou um “acho que o secretário-geral do PS devia ter mais consciência disso (…). Nem sempre dizer o que é mais agradável de ouvir ou o que é mais popular dizer corresponde ao interesse nacional.”

Portas, de resto, elogiou muito a estratégia do BCE. Considerou-a “francamente positiva”, por visar “evitar a deflação, que gera riscos quase tão sérios como excesso de inflação; e melhorar o crescimento numa Europa que tem estado anémica”. Acrescentando que “visa” também “estimular a existência de reformas que tornem mais competitiva e mais flexível a economia europeia”. O presidente do BCE, “nos momentos certos, tem tomado as decisões certas para a Europa”, acredita Portas – que se escusou a falar sobre a possível vitória do Syriza nas eleições de domingo na Grécia.

Quanto à coligação futura entre PSD e CDS – que o Público hoje garante já ter sido falada entre os dois líderes -, Portas foi curto na resposta. Lembrou que o CDS já está a preparar as suas ideias, numa “tempestade criativa” que tenta “organizar ideias para o futuro”. E acrescenta que isso “tanto serve para o caso de haver uma coligação, como para o caso de irmos autonomamente. Isso vai decidir-se no tempo próprio. Não me ouvirão mais uma palavra sobre o assunto.”

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