A revolução no Egito ainda não acabou. Quando se comemora o quarto aniversário da revolta na praça Tahrir, o país volta a estar em estado de sítio, devido à morte de uma ativista de esquerda pela polícia, durante uma marcha simbólica, na cidade do Cairo, conta o El Mundo.

No dia 25 de janeiro de 2011, 15 mil egípcios reuniram-se na praça Tahrir, que ficou conhecida por “praça da liberdade”, a exigir a deposição do Hosni Mubarak. E conseguiram. Mohamed Morsi, apoiado pela Irmandade Muçulmana, foi eleito como Presidente do país. Mas, passado pouco mais de um ano, foi deposto através de um golpe militar. Desde então, a população egípcia tem sido alvo de vários atos de repressão e atentados à liberdade de expressão.

Shaima el Sabag, 33 anos, mãe de cinco crianças, era uma ativista de esquerda, membro do partido Aliança Popular Socialista, e participava de uma marcha em homenagem aos 800 egípcios que morreram durante a revolta, em 2011. O grupo de ativistas iria depositar ramos de flores na praça Tahrir, de forma pacífica, até que foi interceptado por forças policiais, conta o El Mundo.   

No meio da confusão, Shaima foi atingida por uma bala de borracha à distância de oito metros. Segundo a autópsia, conta o El Mundo, a bala danificou os pulmões e o coração provocando uma hemorragia interna. “Foi assassinada a sangue frio pela polícia”, denuncia Medhat al Zahid, vice-presidente do partido Aliança Popular Socialista.

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No domingo, centenas de pessoas transportaram o seu corpo, envolvido numa bandeira egípcia, até ao cemitério na cidade de Alexandria. “Abaixo o regime militar”, gritou a comitiva que acompanhava o caixão, conta o El Mundo.

“Pela primeira vez, o falecido não é um simpatizante da Irmandade Muçulmana, mas uma esquerdista que só pedia que fossem cumpridas as reinvidicações de Tahrir. Não há dúvida sobre quem a matou. Estamos indignados. Qualquer um pode ser assassinado pela polícia”, afirmou Mohamed el Kashef, advogado dos direitos humanos em Alexandria.

O estado de agonia em que Shaima ficou após ter sido atingida foi registado através de fotografias e vídeos, que agora circulam na internet. Shaima ainda foi transportada até ao hospital, mas faleceu pouco depois. Em reação à revolta popular, o Ministério do Interior egípcio, afirmou que este ato não foi cometido pelas forças policiais, mais sim por “infiltrados” ligados à Irmandade Muçulmana.

Mais de 40.000 pessoas foram presas desde que ocorreu o golpe de estado que depôs Mohamed Morsi em 2013. Até agora, as forças de repressão das manifestações causaram 18 mortes em todo o país e feriu outras 50. Dez destas vítimas foram registadas no bairro de Matariya, no Cairo, um reduto partidário do presidente deposto Mohamed Morsi.

Há dois anos, depois da deposição de Morsi, Shaima escreveu no Twitter: “A História dirá que a nossa geração sabia mais sobre mártires do que vivos.”