Marijuana pode ser usada para tratar crianças com epilepsia? O tema promete muita polémica, mas a academia de pediatras americanos recomendou ao governo dos Estados Unidos que reveja a classificação da marijuana e a coloque no nível II, de acordo com a revista The Atlantic. Esta categoria inclui outras substâncias aditivas que são igualmente consideradas terapêuticas, como a morfina, a codeína e oxicodeína.

Os pediatras querem aprofundar os estudos sobre os efeitos positivos que a marijuana poderá ter no tratamento de crianças com epilepsia que não respondem bem a medicamentos convencionais. Mas para poder avaliar adequadamente as suas qualidades terapêuticas, a marijuana tem de sair do clube das drogas mais perigosas de nível I, onde estão a heroína e o ácido. Apesar de a cannabis já ter sido legalizada para fins médicos em 23 estados norte-americanos, a nível federal a droga ainda é ilegal, o que inviabiliza o desenvolvimento de pesquisas sérias e sólidas sobre os seus alegados efeitos terapêuticos.

O panorama para a utilização de marijuana com fins medicinais é desigual nos Estados Unidos e a Florida é um exemplo das contradições que envolvem a postura das autoridades para com esta droga. O estado aprovou uma lei que permite a prescrição de cannabis com baixo teor de THC (a principal componente) em certas condições médicas. No entanto, um juiz invalidou recentemente um sistema que permitia escolher os produtores habilitados, pelo que ninguém na Florida está autorizado a cultivar a marijuana que sirva fins terapêuticos.

A revista The Atlantic conta a história de uma família que vive no limbo por causa destes avanços e recuos. Os pais de uma criança de nove anos já tentaram tudo para controlar os sintomas da epilepsia, que incluem convulsões, e em desespero voltaram-se para uma alternativa não convencional: a marijuana. Há alguns indicadores, ainda prematuros, de que a droga pode ser eficaz no tratamento de sintomas em algumas formas epilepsia. Mas só quando cannabis for promovida para a liga das drogas terapêuticas, é a que FDA (agência federal de controlo de medicamentos) poderá envolver-se na pesquisa do uso desta droga em crianças com epilepsia.

Apesar da recomendação, a organização que representa os pediatras continua a ser contra a legalização da marijuana, lembrando que há provas claras dos efeitos nocivos do uso da droga em cérebros jovens. Nessa medida a academia de pediatras apoia a proibição de vender erva a menores nos estados que já legalizaram a cannabis. Desaconselha ainda os adultos a consumirem ao pé de crianças.

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